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Um brilho de aluguel

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Caía a tarde. E depois de um dia gostoso em casa, Paris pedia companhia nas ruas. Ao caminhar à margem da Prefecture de Montrouge (cidade satélite) uma coisa nos chamou atenção: Um aspirador de pó, ligado, na calçada, sem ninguém por perto. Ensaiei de desligá-lo, mas lembrei da garotinha do elevador de Silvio Santos e depois pensei em possível terrorismo e larguei pra lá.

O ano está começando com fatos estranhos.

Um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos. Logo após a virada, encontrei 5 centavos no chão (quase 15 centavos em reais) e  felizes com o enriquecimento sem causa, apanhamos o metrô para voltar. No vagão, havia uma mulher que chorava baixinho. Até aí, a gente entende. Fim de ano, um balanço doloroso, muita saudade daqueles que partiram… choram Marias e Clarices… Enfim, acontece… Mas o que estranhei é que a mulher era exatamente igual à Cássia Eller alguns anos mais jovem. Quem sabe ela ainda é uma garotinha?

Passei a virada do ano na Ponte Alexandre III conforme meu primo que veio a turismo sugeriu. Ele escutou que era incrível passar o réveillon lá e, após jantarmos e trocarmos encomendas, fomos todos para lá. Fiz o countdown em voz alta e comemorei sozinha o réveillon que chegou segundos depois. Eu era a única que tinha o relógio certo na multidão. Que estranho!

Mesmo assim, na ponte, nada aconteceu. Paris parece não ligar para réveillon embora a palavra seja francesa. Não acontece nada demais. Não tem um fogo, um balão, uma vuvuzela…  Mas tem gente de todo o mundo. E muitos conterrâneos! A gente ficou feliz de ter vivido a experiência entre outros centenas de brasileiros que foram para lá esperando a mesma coisa extraordinária que nunca veio. Passar o réveillon em família já foi bom o suficiente. E na chuva. Bem à brasileira! Meu Brasil…

O ano de 2012 já deixa saudades. (pule este parágrafo se você já se cansou de ler frases como esta). Foi um ano que começou muito diferente do jeito que terminou e em cada situação, com uma dificuldade diferente. Que sufoco! Louco! Eu era síndica do prédio no primeiro dia de 2012. Eu era também uma advogada atuante e indignada. E, atualmente, se eu pensar friamente, eu não tenho mais nada. Nada. Não tenho minha família comigo, meus amigos, meu cachorro, meu trabalho, minha casa, meu chuveiro, meu piano, minha cultura, minha cidade, meu direito de comer spaguetti 10h da manhã com a Eliete gritando “misericórdia!”… Ah, Brasil, se soubesses como eu gosto do seu jeito, seu cheiro de flor… E não é para chorar. Analisando por outro ângulo (e de outro hemisfério) tenho a impressão de ter ganhado muito, na corda bamba de sombrinha. Só tenho a agradecer.

Outro dia uma leitora de outro blog escreveu dizendo que terminava o ano feliz, mesmo estando desempregada, porque ela tinha em mente diversos planos que a libertariam de qualquer insatisfação! Eu acho isso inteligente! As vezes, o problema não se resolveu, mas a forma de vê-lo já mudou! As vezes, a linda Paris não celebra o réveillon, mas os brasileiros festejam assim mesmo.

Um excelente 2013 para todos os equilibristas!