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Esse meu pai

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Enquanto a areia da praia marcava nossas pegadas de pés achatados de Hobbit, eu e meu pai sublinhávamos a costa do Brasil com um olhar sobre o mar se perdendo junto ao céu e as nuvens. Foi quando ele me perguntou algo do tipo: “Quando você olha para o mar, para o céu e para a Terra, não te dá vontade de descobrir mais sobre a vida e o universo?”.

Daquela pergunta veio uma conversa sobre querer aprender, querer entender, querer buscar e também sentir o mundo, suas belezas, suas forças e fraquezas e deixar por aqui uma parte do que podemos passar do nosso mundo.  Eu era tão pequena…

Não importava meu tamanho.  Papai sempre tinha as conversas mais profundas comigo. Quando eu fazia bagunça, ele me colocava sentada na sua escrivaninha, para falar comigo como gente grande, olho no olho, o que eu deveria entender.

Aliás, foi meu pai que me ensinou que o melhor jeito de conversar era olhando nos olhos. Que o jeito mais honesto de conseguir alguma coisa era tentando. E que um salário pode ser bom para uma jornada de 8h/dia, mas nunca o suficiente para 24h de trabalho/dia.

Pode parecer bobagem, mas uma das coisas mais eficazes que meu pai me ensinou foi que se eu quiser acordar com raiva todos os dias, terei motivos, mas que se quiser me levantar feliz com a mesma frequência, também terei argumentos!

Ele é um cabeção!

Em toda prova de vestibular e/ou concurso que fiz na vida, meu pensamento era constante: “se meu pai estivesse sentado aqui, ele saberia a resposta”! E não era só eu. Quando o sogro do meu tio comprou a revista do Show do Milhão quem ele inscreveu para ser sorteado? Meu pai! Quando meus primos precisavam de reforço em qualquer matéria exata ou História, quem eles procuravam? Meu pai! No dia que eu quis saber como eram feitos os detergentes? Foi meu pai que passou o almoço explicando. E a queda do muro de Berlim? Era emocionante!

Papai tem uma cicatriz na testa. De um acidente que sofreu na infância. Na época, triste com o corte profundo, foi consolado pelo seu pai, meu avô. “Filho, as mulheres gostam de homens marcados pela vida”! Haha. Quando virou pai de menina, não se intimidou. Usou a mesma técnica. “Minha filha, mulher bonita é também marcada pela vida”! E como não?!

Do meu avô ele também puxou a resposta para escândalos por machucados insignificantes. “Não se preocupe, querida. Começa assim, depois sai as tripas”. Que remédio!

A verdade é que na cabeça do papai, tenho a impressão que além da cicatriz, existe um mundo mais incrível que o normal.

Já disse que ele é um cabeção? Adora números, Carl Sagan, cubo mágico, estatística, mitologia grega, Karajan, xadrez, computação, odisseias, história do Egito, expedição ao pólo sul, física, falar alemão, biografias, histórias de cavalos, coisas que não sei o nome para fazerem outras coisas que não sei o nome, química, teoremas de Pitágoras e de outros ilustres e tudo que há de mais complicado, complexo e entremeado numa lógica evoluída e maravilhosa.

Acho que e ele tem tantas raízes quadradas e gráficos na mente, que as vezes o mundo comum parece comum demais para ele. E com isso surgem algumas pérolas no cotidiano.

Foi assim que ele não reconheceu um primo nosso porque o bendito estava sem a franja! Foi assim que ele nunca acertou num presente pra mamãe e nem nunca combinou a meia com o sapato. Nunca se inibiu com a moda anti-pochete. E insiste em levar pra casa o bolo do único sabor que pedimos para ele não levar. Foi nessa mesma vida seinfieldiana que ele ficou de papo com a moça do telemarketing para provar pra ela que não valia a pena assinar o jornal que estava oferecendo, porque ele iria se sentir obrigado a ler todo dia uma informação da mesma fonte. Foi uma forma involuntária de ter o telefone riscado da lista de promoções.

Meu papai cabeção!

Embora imperfeito, é o melhor pai que eu conheço! E conheço muitos pais bons. Mas este aqui é meu e é muito especial! É também um dos pais preferidos entre os meus amigos. É aquele que explica o mecanismo da bomba atômica começando a história a partir do homem primitivo. É o que vai almoçar com minha turma e pergunta tudo do universo da pessoa. É o que fala portunhol com todo mundo que é estrangeiro e que vira super-herói na história de seus alunos! É o que senta para falar de geometria com a mesma empolgação que meus colegas falam de Pink Floyd. É o que estuda Logosofia com a mesma ênfase que estuda Matemática.  E o que não reclama de trabalho, de acordar cedo e nem de nenhuma doença. Também não reclama de tomar remédio, mas resmunga se a gente demora pra aparecer quando ele engasga! Ai, papai! Ele  presta a maior atenção em todos os nossos casos, mas tende a dormir de vez em quando no meio da conversa. O meu pai é o cara da covinha na bochecha, óculos que afunda no nariz, coração amolecido pelo nosso vira-lata e, claro, rosto marcado pela vida.

Desse pacote de amor, não é fácil viver longe. Lembro dos meus sábados na infância quando ele me levava na livraria Status e comprava revistinha pra mim. Lembro das nossas leituras na cozinha, eu já crescida, sobre os mitos da alimentação.

E, agora, papai, como fazer nos domingos de manhã sem o possante Pavarotti que você colocava pra acordar a casa com “Nessun dorma”?

Você do outro lado do oceano e eu daqui vendo o traço entre o céu e o mar se esmaecendo. Essa Terra redonda e essa linha do horizonte que me traz de volta aquela nossa conversa de décadas atrás. Quanta coisa ainda temos pra descobrir no Universo! Obrigada por se manter do meu lado. Você conta que eu era tão pequena ao nascer que podia me segurar pela palma da mão. E aí eu penso, papai, com muita gratidão, que apesar de tão miúda e bem acanhada para esse mundo, você me ensinou que posso ser grande.

 

Papai e Peter pequenininho

 

 

Papai e Peter. Um abraço apertado também a todos os pais queridos e inspiradores. Em especial ao meu vovô Henrique, meu vovô Zico, tios de sangue e tios emprestados. ❤

Saudade de almoço de dia dos pais

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Ontem foi dia dos pais!!! E, como estou longe! Mandei meu beijo virtual para o meu pai, que como é natural, me parece o melhor, o mais legal, o mais inteligente, o mais foto, o mais atencioso, o mais bonito, o mais gentil, além de ser o meu melhor amigo!

Minha avó hoje mandou um e-mail sobre como foi o dia dos pais na casa dela, e sabe, essas coisas me dão uma saudade… veja trecho:

“Sua mãe fez peixe, risoto de cogumelo, risoto de camarão grandão, sua tia Denise fez salada artística, e eu o capelete”.

Brasil, o país com a maior diversidade gastronômica do mundo! E os mais lindos sorrisos à mesa!

Um beijo pra você, meu povo! E para todos os papais.