50 nuncas do ano (que era para ser de 2020)

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Entendo que é falso quando dizem genericamente que as pessoas não gostam de trabalhar. E o que eu entendo é o seguinte: as pessoas não gostam é de serem humilhadas, de serem desrespeitadas, não gostam de arriscarem a vida por miséria. Elas não gostam é da hipoglicemia da fome, da ruptura de ligamento por não poderem mudar de posição, ou do problema nos pulsos por um movimento repetido à exaustão. Acho que as pessoas sentem é que têm umas mil horas de sono atrasadas. E elas não gostam de serem invisíveis e nem de serem vigiadas o tempo todo. As pessoas não gostam de não conseguirem algo impossível e nem de serem criticadas pelos erros dos outros. Há uma lista grande das coisas que as pessoas não gostam. Mas as pessoas gostam de trabalhar sim!

Em sentido amplo, todo mundo tem prazer ao entregar uma coisa bem-feita. Ao receber um reconhecimento, um sorriso, ao encontrar uma solução para um problema, se sentir útil. Todo mundo tem prazer quando sente que faz algo importante, algo que pode levar a outra coisa também importante. Algo que faz bem. Esse é o trabalho ou como entendo que deveria ser. Isso a gente adora fazer, mesmo quando passamos por momentos de dificuldade, ralação e até pequenos desprazeres! Aqui posso dizer que amo escrever. Trabalho com isso. E muitas vezes faço de graça. Escrevo o tempo todo. Nem sei como faria se não soubesse. Foi um dos primeiros sonhos que lembro de ter tido na vida. Mas tem dia que eu estou exausta. Tem dia que eu não logro escrever mais nem uma linha. E percebo que é isso que acontece com a maioria das pessoas que não conseguiram finalizar algum trabalho. Elas chegaram num limite, de uma forma ou de outra. E é preciso entender o que aconteceu.  Há sim uma parcela que é da malandragem, do aproveitamento, da pura usurpação. Mas essas pessoas mais fingem que trabalham do que não trabalham, sabe como? Sei que você sabe. 

Então já vou indicando isso logo no início do texto para explicar que não deixei de escrever os 50 nuncas de 2020 por não querer, ou por não gostar de trabalhar ou escrever, mas porque não consegui. E tenho boas desculpas.

  1. Vivi uma pandemia

Como todo o resto da humanidade, fui pega nesta loucura, vivi as dores, as transformações e ainda sigo, cada dia, me perguntando sobre o que nos falta aprender com isso tudo, embora considere que ja pagamos o calvário 

  1. Passei a trabalhar meses de home office

Com isso, meu gato, meu cachorro, meus pais e minhas colegas de apto viraram meus principais colegas de trabalho. Minhas plantas agradeceram e meus vizinhos acabam de aumentar o condomínio em 60% sob o mesmo argumento.

  1. Resgatamos 3 gatinhos na minha rua

Como isso foi em janeiro de 2020, aconteceu antes da pandemia chegar aqui e parece que tem mil anos. Conseguimos adotante para todos logo depois! 

  1. Fui para o Rio de Janeiro em Janeiro só pelo trocadilho

Na verdade, não apenas pelo trocadilho, mas pela oportunidade. Conheci a sede de um cliente muito querido e foi a grande ocasião, pois logo depois, como se sabe…pandemia.

  1. Trouxe um pé de amora para casa

E divido as frutinhas com os pássaros que visitam minha varanda.

  1. Fiz um curso de pandeiro com a Chaya

Foi meu primeiro curso da pandemia! Chaya é uma das maiores percussionistas de Belo Horizonte e uma grande integrante da nossa banda latina querida: Orquestra Atípica de Lhamas!

  1. Escrevi um livro com outras 18 mulheres

No início da pandemia era muito difícil encontrar máscaras e material médico suficiente para atender todo mundo. Num projeto encabeçado pela Paty Barbosa (da By My Hands) escrevemos, um livro que foi vendido pela Amazon e teve metade da renda revertida para auxiliar comunidades carentes e hospitais nessas questões. Obrigada a todos que compraram. O livro se chama Manas à Obra! Escrevi o capítulo sobre Greenwashing.

  1. Fui promovida e virei Senior

Foi uma das últimas atividades presenciais que tivemos. Uma copywriter senior fui até início deste ano, quando mudei de cargo!

  1. Gravei meus primeiros podcasts profissionais

Aliás, hoje mesmo este está sendo o tema da enquete que deixei no instagram (gente, o instagram tá esquisito, né? Socorro!).

  1. Fui pra Tiradentes com os amigos

Mas isso foi em Janeiro também (ah, que mês viajandão). Estou sendo anacrônica, beleza? Estivemos lá para o festival de cinema e que bom que deu para aproveitar antes da pandemia. Não é exatamente um nunca ir para Tiradentes no festival. Mas com esses amigos foi!

  1. Dei um curso de interpretação e escrita jurídica para meus colegas de trabalho

Galerinha, eu adoro dar oficinas de tudo que sei! Quero mais!

  1. Toquei flauta no carnaval

Tenho até foto! Meu personagem do Titanic Fail fez tanto sucesso que minha amiga conheceu um alemão por causa dessa abordagem. Isso foi antes da pandemia chegar aqui.

  1. Passei as férias faxinando o prédio dos meus pais

Com a pandemia, foi recomendado que o zelador ficasse em casa. Eu ia para o México de férias e tive a viagem cancelada, então fiquei nessa função durante as férias e o resto do prédio deles também colaborou. 

  1. Processei uma empresa aérea de forma totalmente virtual

O nunca não está em processar um serviço mentiroso e absurdo que fica com o nosso dinheiro indevidamente, mas em fazê-lo sem sair de casa. 

  1. Esperei meu namorado por 7 meses

Ele foi para o México uma semana antes de mim. Isso foi em março. Aquela semana mudou tudo. E enquanto ele conseguiu embarcar, eu fiquei por aqui. Foram 7 meses para reencontrá-lo novamente.

  1. Fiz minhas primeiras lives!

As primeiras lives que fiz na vida foram com Lili, Paty e Danilo! E teve um dia que Lucas estava muito doido e também me colocou em uma sem avisar nada. Adorei as experiências, gente, mas ao mesmo tempo me preocupei demais com a internet. Se essa coisa pifa, a gente fica muito angustiada. Como vocês conseguem fazer a internet de vocês funcionar?

  1. Troquei de internet 3x

Socorro! Qual é o serviço que funciona? A última internet fibra que instalei aqui me custa um rim, tem aumentado de valor e passa uns dias sem pegar direito. A notícia boa é que conheço a galera toda do call center deles. É caro, mas a gente já se despede com #forabolsonaro. Rimou!

  1. Mandei consertar todos os meus sapatos

Não distante da minha casa descobri uma portinha que tem os melhores sapateiros do mundo. Fiz amizade e recuperei todos os meus sapatos e tênis. Sabia que podemos trocar a sola dos tênis e reutilizá-los ainda muito tempo? Aham!

  1. Descobri o armário solidário

Um armário situado na rua Pium-í (olha que nome tudo!) aqui em BH onde você pode doar tudo que tiver em bom estado para doar. Fiz uma limpa nas minhas coisas e me sinto muito bem!

  1. Ganhei uma surpresa de aniversário dos meus vizinhos!

Nunca tinha vivido isso do síndico chegar vestido de homem-aranha, com a namorada e entregar bolo de presente. Este prédio desperta o melhor e o pior das pessoas!

  1. Ganhei um megafone de aniversário

Juan, impossibilitado de vir para meu aniversário, me mandou este equipamento utilíssimo! Tem uns 4 nuncas que vieram disso!

  1. Cantei Carinhoso para minha avó na porta da casa dela

Com o megafone!

  1. Fiz propaganda para a sorveteria do meu amigo na rua

Com o megafone. A sorveteria se chama Inventiva. É deliciosa e pertence ao meu amigo de infância e a gente se chama assim.

  1. Virei fiscal de festa na vizinhança

Com meu megafone. 

  1. Conheci a Lureca Burguer

Uma lanchonete simples e maravilhosa aqui no bairro (@lurecaburguer ). De tanto pedir para a Lureca um sanduíche vegetariano, ela criou o Diorela Burguer. Hoje somos amigas!

  1. Fiz muito anúncio para o bairro sobre as comidinhas da Lureca Burguer

Sim, com meu megafone!

  1. Fiz o curso de dança online do Grupo Corpo

Que é maravilhoso, né? Gente, me lembra de contar a história de quando entrevistei o Rui Moreira!

  1. Comprei uma Calimba

Esse instrumento lindo que Nadia e Rodolfo me apresentaram. Comprei na rua, de um artesão da música.

  1. Fiz um curso de Palhaçaria

Estava na lista de ano novo e consegui fazer o curso com o grupo Maria Cutia. Maravilhoso! Tenho muito a dizer. Não vai caber aqui.

  1. Cuidei de Peter quando ele infartou

Peter é meu cachorro. Em abril, era o aniversário do meu pai de 70 anos, e ele (o cachorro) infartou. Me mudei para a casa dos meus pais e fiquei cuidando dele até que ele pudesse voltar a andar e comer sozinho. Peter sempre cuidou muito de mim. Foi o meu jeito de  agradecê-lo. Ele sobreviveu. Em abril deste ano ele fechou os olhos para encontrar outros tantos amores em algum lugar onde não existe dor, eu espero. Me desculpe por este nunca mais triste. Porém Peter foi uma alegria por quase 15 anos nas nossas vidas. Somos pura gratidão.

  1. Choquei 48 pintinhos!

Olha, eu não sei como explicar, mas minha mãe achou que seria conveniente trazer os ovos da roça para chocar no apartamento durante a pandemia. Eu, fazendo home office, fiquei encarregada de acompanhar a chocadeira. Eram 84 ovos. O povo da Rock até fez uma lista de 84 sugestões de nomes para apadrinharem, mas apenas 48 pintinhos nasceram. Tipo George Orwell. Eu trabalhava entrevistando gente com uma mão e segurando os pintinhos mais frágeis ao mesmo tempo com a outra. Por favor, não pense bobagem com os possíveis trocadilhos aqui. Isso é coisa de quem vota muito errado.

  1. Sanduíche de mundo!

Tenho uma prima que mora na Austrália. Eu moro aqui. Sabe que se a gente coloca um pão de forma no chão da Austrália e outro pão de forma no chão do Brasil, a gente está fazendo um sanduíche com o mundo inteiro? Então, meu amigo, te informo que você está dentro de um. Valeu, Larissa!

  1. Virei tia do Tom!

Mas ele ainda não me conhece…

  1. Fiz uma oficina sobre Tiradentes para meus amigos franceses

Isso foi online e no dia de Tiradentes. Foi importante e gostoso ao mesmo tempo! Quando se estuda essa história, a gente vê o desgosto que é uma traição.

  1. Recebi um queijo arremeçado pela janela do prédio ao lado

Melhor não detalhar.

  1. Pedi para Fernanda Takai e Arthur Nogueira me emprestarem uma música para eu enviar para minha avó e eles concordaram

Esse foi o dia em que vovó saiu do hospital.

  1. Participei de um projeto de vídeos com a turma de teatro

Desta vez fizemos projetos à distância e em vídeos. Mas reunir, ainda que distantes, foi tão bom! Você pode acompanhar em @oficinamarcelodovalle.

  1. Virei inspiração para o roteiro que um amigo está escrevendo

Não sei se posso contar muito, mas André é um ator mineiro que mora no Rio (ele já foi meu colega, meu chefe e meu companheiro de patinação no gelo também) e, de alguma forma, acha que sou estranha o suficiente para virar um personagem com os requisitos que procura! Tô doida para ver!!!

  1. Criei o @VistadaCidade no instagram

Em homenagem ao primeiro blog que tive na vida, também a uma página de facebook que mantenho há algum tempo. Desta vez, virou instagram, onde falo de cidades, urbanismo, arte urbana, transporte público, mobilidade urbana, vida em comunidade, gentrificação, direito à cidade e tudo mais que estiver relacionado a esta palavra que me chama tanto: cidades. Já segue?

  1. Participei de um mutirão de plantação de árvores

Eu e Juan, nas bordas do rio Arrudas. E assim vamos resistindo e tentando também colaborar com o futuro desta cidade. Siga também o @mataurbana para mais mutirões!

  1. Troca de looks

No meio do caos e do confinamento, eu e minha amiga Livinha iniciamos um projeto de envio de looks do dia todos os dias. Assim paramos de ficar de pijama o dia inteiro. Embora nada contra.

  1. Fiz as primeiras reuniões e entrevista em francês, estando no Brasil

Para a Rock, onde trabalho hoje! Porque antes, né, na França não é diferencial falar francês, mon Dieu.

  1. Meu texto virou obra do grupo Galpão

Há um incrível grupo de teatro neste Brasil que se chama grupo Galpão. Durante a pandemia, fizeram uma convocação para que o público enviasse relatos sobre suas histórias na pandemia e no confinamento. Enviei a minha. Fui selecionada junto a mais umas 19 redações e pela primeira vez vi alguém me representar! Uma honra!

  1. Fui entrevistada pela Globo

Por conta dessa alegria com o grupo Galpão também virei tema de reportagem da Globo. A Iana (apresentadora que hoje eu adoro, mas que antes não conhecia por não ter televisão em casa) veio aqui com o cinegrafrista, ganhou macarrão do meu avô, pediu detalhes sobre a chocadeira, o livro, o cachorro e saiu rindo. Mãe, eu tô na Globo!

  1. Contratamos um carro de som para o dia 24 de dezembro

Olha, a gente não tem religião, mas a gente sabe que o dia 24 de dezembro é meio sagrado para muita gente da nossa família. E sem poder reunir, a coisa estava ficando dolorosa. Contratamos um carro de som, colocamos muita música italiana para a família italiana e muito Zeca Baleiro para a família Kelles. A boa notícia é que as duas famílias moram na mesma rua e a festa foi da rua. A má notícia é que o carro de som só aceita pagamento em dinheiro, tá? Você se prepare.

  1. Entrega de macarrão natalino

Se você me conhece há mais de vinte minutos deve saber que meu avô faz massa de macarrão ( @massasbranco). E este foi o grande presente que levei para algumas pessoas queridas na noite de natal (depois que deixei o carro de som do item anterior). Apareci de surpresa em algumas casas. Algumas pessoas já estavam até dormindo. Nath ficou sem o macarrão dela por conta disso. 

  1. Cobrinhas no viaduto Santa Tereza

A linda instalação da obra Entidades no CURA chamou muito a atenção do belorizontino e comigo não foi diferente. Passei pelas cobras gigantes algumas vezes durante a pandemia. Foi inclusive uma das inspirações para escrever mais sobre cidades. Obrigada, Jaider Esbell! 

  1. Praça da Calmaria

E nas andanças descobri uma praça que me trouxe verde e calma estando em BH. 

  1. Parquinho com minha sobrinha

Era dezembro e descobri que minha amiga passeava com a minha sobrinha de 2 anos toda quinta de manhã num parque lá na Pampulha. Pedi para começar meu turno de trabalho mais tarde e nesse dia, eu acordei cedo só para correr com Luiza no parque.

  1. Dancinha de fim de ano

A nossa festa de fim de ano foi pequena, mas não foi íntima. Eu e Juan fizemos o que há um tempo inventei: #dançandoporumacausa nos stories do Instagram. Uma prática que venho perdendo, mas que naquele dia era apenas para, ao mesmo tempo que pedir cuidados, também avisar sobre a chegada das vacinas. A gente só não esperava que fosse demorar tanto.

Sendo hoje meu aniversário, me sinto agora satisfeita de finalizar este texto que chega a ser doloroso de tão grande e de tantas memórias. Foram mais de 2400 palavras! Como sempre faço, tento colocar itens apenas otimistas, então aqui você viu as causas boas que me distanciaram de finalizar o texto ainda em 2020, mas não viu tanto perrengue, perda, angústia…. E, enfim, seguimos aqui! E, olha, acho que para 2021, não vou me cobrar um número tão redondo de nuncas! E nem uma data fixa. 

Feliz de quem tá vivo e ainda pode praticar uns nuncas. Mas saudade também de praticar uns deja vu, tipo uma reunião de gente legal. Outro dia li uma frase que me marcou “prometo nunca mais partir antes do samba acabar”. 

Feliz fim de pandemia para todos nós! Que ainda tenha felicidade para resistir.

Lembranças de tia Lúcia

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Foi numa tarde de arco-íris que minha tia que levava nome de luz deixou o nosso planeta para, sabe-se lá onde. 

Na tentativa de aproximar novamente sua vida ao nosso amor, reuni algumas das lembranças e lições mais marcantes que tive com ela. 

Minha tia, papai e eu

Uma desenhista paciente

Eram 10 irmãos. Seis mulheres e quatro homens. Uma família bastante adorável, mas com características de sua época, o que significava uma criação consideravelmente machista. Tia Lúcia sempre teve vocação para desenhar, ver a simetria das coisas, estabelecer uma ordem. Porém, na criação machista, não importava tanto liberar os artistas, primeiro, ela tinha que limpar as suas coisas (até aí, justo) e, depois, as coisas dos irmãos homens (opa!). 

Um dos irmãos contemplados era meu pai. Este, uma das minhas pessoas preferidas no mundo, mas também vítima de uma sociedade, como já dito, bem machista (ele tem melhorado muito e, aos 70 anos, aprendeu a cozinhar, mas isso é história para outro texto!). 

Consta que tia Lúcia deveria limpar a mesa de estudos do meu pai. Assim como as outras irmãs, limpavam outras sujeiras de seus irmãos. Porém papai não admitia que se tirasse uma folha do lugar. Nada! Como a mesa era uma bagunça, minha tia desenhava o layout do estado em que ela se encontrava num papel. Depois tirava tudo de lá, limpava a poeira e depois voltava com as coisas todas para o mesmo lugar, desta vez sem poeira. Assim começou a se formar a arquiteta Lúcia: com paciência e detalhamento.

Um presente da delicadeza

Quando pequena, lembro de ter presenciado um aniversário lá no apto que morávamos. Acho que era o aniversário do meu pai. Nos anos 90 a economia brasileira teve certo respiro, com a estabilização da inflação e o sucesso do plano real. Desta forma, a classe média belorizontina, que antes era mais singela, conseguiu aproveitar alguns luxos fora de costume.

A questão é que, com isso, começaram algumas demonstrações de superioridades aqui e ali. Coisa que, mais tarde, julguei tão desnecessárias, na época, ainda me faziam graça. Tia Lúcia, no entanto, supreendeu com uma atitude que me marcou.

Neste aniversário, enquanto as pessoas chegavam com vinhos, livros e camisetas para dar de presente (nada contra), ela chegou com um vaso de violeta. Um vaso de violeta! O presente mais simples e mais bonito. O presente que mais falava comigo naquela cama com embrulhos.

Acho que foi uma das primeiras vezes que alguém me ensinou com o exemplo sobre a beleza da simplicidade. Talvez tenha sido naquele dia que minha tia deixou de ganhar meu amor por ser uma tia, e passou a ganhá-lo por ser alguém que me apresentava seu valor!

Uma viagem para a praia

Quando eu era adolescente, um dia tia Lúcia me chamou para ir para Marataízes nas férias. Sem saber direito como seria, aceitei. Andei 10 horas de ônibus com minha avó Marieta para encontrar titia e seus filhos numa casa rosada, alugada num bairro afastado, mas tranquilo da cidade.

Foram 15 dias caminhando todos os dias na praia com minha tia e minha avó (hoje é que eu vejo o valor que isso tinha). Lá, ela explicou que seria bom para a saúde a gente caminhar abrindo e fechando as mãos, porque isso faria bem para a circulação. Ela também contava casos, explicava projetos e falava de outros assuntos, mas eu era jovem demais para entender. Vovó sempre estimulava todos! Algumas vezes, cantávamos. Que saudade.

Lembro que conhecemos um restaurante na cidade onde, por 5 reais, se comia à vontade. Titia e vovó passaram a dar preferência para lá. E ficaram amigas do pessoal da cozinha. Aqui um parênteses, adoro esse jeito da minha família de conversar com todo mundo! Amo e imito. Quero ser como vocês nesse sentido.

Dessa experiência ficou ter conhecido Marataízes e Piuma, uma cidade lá perto. As duas únicas cidades do Espírito Santo que conheço até hoje. 

Antes de dormir, titia dava um beijo na testa da vovó: “bença, mãe”, dizia. “Bença, minha filha”, eu escutava. Fico pensando se elas não se reencontraram em algum canto por aí, se não estão conversando com o pessoal da cozinha. Bençã, tia! Bençã, vó!

Sobre ver e enxergar

Uma vez, sofrendo com um namorado extremamente ciumento, a história foi parar na mesa do lanche de domingo que fazíamos na casa da minha avó. Toda a família, ouvindo os últimos relatos da minha experiência na época, ficava indignada com aquele relacionamento abusivo (que a gente ainda não costumava chamar daquele jeito).

Então tia Lúcia contou uma história que a princípio não teria nada a ver com o meu relacionamento. Dizia ela que, num julho dos anos 80, chegou mais cedo para a minha festa de aniversário que devia ser de 4 ou 5 anos de idade. Eu estava com uma roupa simples, mas muito feliz que teria uma festa (até aí, me identifico)!

Conta ela que, chegou então uma amiguinha da mesma idade. E esta menina estava com um vestido muito bonito, parecia uma princesa. Minha tia diz que pensou “ai, isso vai dar uma inveja na aniversariante”. Então ela relata que ficou de olho no nosso encontro, para evitar qualquer problema. 

Tia Lúcia então contou que, ao encontrar minha amiga, abri um sorriso e comentei “como você está linda”. De volta para a mesa de lanche da vovó, a família concluía: “não deixe ninguém tirar de você a sua natureza”, “não deixe ninguém te fazer mal”. E tia Lúcia finalizava: “Não aceite um relacionamento em que você tenha que ficar pisando em ovos, você não vai ser feliz assim”.

Foi importante. E é o que defendo até hoje. Obrigada por ter visto alguma coisa que nem eu enxergava sobre mim. Aquele relacionamento acabou, a dor também. Você me ajudou muito, tia!

Ela ainda

Foi também tia Lúcia que me ensinou a lavar o cabelo com vinagre quando num belo dia de empolgação hidratante, passei bepantol no cabelo e não consegui mais tirar. Mesmo depois de 9 lavadas o cabelo ainda estava emplastado. Ela me salvou com a dica do vinagre que sigo até hoje, porque é ótimo.

Foi ainda ela que ensinou para a família que tudo bem jogar a água que sobra da máquina de lavar nas plantas, que elas não morreriam por conta de um pouco de sabão. Com isso, economizaríamos água e pouparíamos o planeta. Aliás, titia sempre nos ensinou a gostar de plantas.

Tia Lúcia também tinha umas manias como de detestar que a gente cortasse o queijo sem simetria, ou criticar se a gente enfiasse a colher no meio do pavê, ao invés de ir começando pelas bordas como todo bom mineiro. Lembro dela toda vez que corto um queijo.

São muitos casos gostosos dela se manifestando, oferecendo ajuda, contando experiências e segurando a nossa mão. A vida da minha tia se abreviou em 2020, mas não se resume a um texto, nem mesmo a um livro. Mas sobre este último, vou registrar uma lembrança que me transformou.

Ninguém solta a mão

Estávamos numa festa de criança. Era aniversário da filha de alguém com alguém que, sinceramente, não me lembro mais, mas a festa estava ótima e chamaram muita gente. A família festeira foi em peso!

Muita gente, muita comida, balões, música e garçons com cerveja e refrigerante. Num dado momento, algumas pessoas tiveram a má ideia de furar os balões que estavam cheios de água. Vai vendo. 

O garçom, um jovem que estava fazendo bico, passou com a bandeja de copos, escorregou na poça d’água que havia se formado no chão e caiu sobre os copos já estilhaçados cortando profundamente o pulso.

Meu pai, que não estava muito longe, pegou o próprio cinto e fez um garrote no braço do jovem. Minha tia Lúcia pegou alguma coisa para fazer pressão e segurou sobre o pulso dele, enquanto alguém chamava a ambulância.

O jovem estava em choque. Apesar de terem agido rápido, ele não podia perder mais sangue. E a ambulância demorava para chegar.

Ele começou a tremer. Dava pena. Tia Lúcia, no entanto, segurava firme com as duas mãos o pulso do moço, olhava nos olhos dele e dizia repetidamente “eu não vou soltar, eu não vou soltar”. Ela o acompanhou até a ambulância e ele foi para o atendimento, onde se recuperou.

A voz da titia naquele dia ficou marcada para mim. Anos depois, no meu aniversário de 34 anos lá na França, um cara caiu com a mão sobre o copo de vinho, colorindo o chão inteiro de vinho tinto de sangue. Naquela hora eu, que morro de aflição de sangue, peguei alguma coisa para comprimir a ferida. E enquanto alguém chamava a ambulância, repetia “eu não vou soltar, não vou soltar”.

Tia Lúcia querida, obrigada por tanto. Você faz falta, mas deixa muito. Se ainda tiver como estabelecer algum contato, diria para não soltar da gente. Das suas lições, não soltaremos. 

Feliz aniversário!

vovó Marieta e tia Lúcia

50 nuncas de 2019 (meio atrasado, realmente)

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Então, gente, o tempo passou.  Cheguei a montar, durante o ano, a minha lista de nuncas e ela estava até prontinha no fim do ano. Mas cadê que eu achava as fotos, sentava na frente do computador, lembrava a senha do blog…

Fui adiando as coisas até que chegou a quarentena e com ela as calls com amigos e uma amiga lá da França perguntou pelos 50 nuncas. Gladys é seu nome! E foi o gatilho que faltava para publicar a lista do jeito que podia. Com foto ou sem foto. Completo ou incompleto. Lembrando que 2019 foi um ano difícil, mas muito especial e cada vez mais recordado nestes tempos de confinamento.

Vamos, então, sem delongas, ao que eu já havia preparado nos longínquos tempos de liberdade na dezembro de 2019.

2019 foi mais um desses anos que a gente culpa. Achei que já tinha começado errado quando a assistimos ao rompimento das barragens de Brumadinho. De um susto ao outro, vimos as queimadas da Amazônia anoitecendo São Paulo às 3 horas da tarde. E de escuridão para escuridão, recolhemos petróleo que não servia como riqueza, mas como destruição. Isso para falar das tragédias que foram públicas e eu nem sou das que costuma falar de tragédias. Porém aqui, como sempre, um espaço para o que, do meu ponto de vista, gerou alguma coisa positiva: os nuncas! O que eu nunca tinha feito antes (e que posso revelar!).

1.Fiz uma tatuagem

me custou 50 reais e foi feita por uma colega de trabalho que estava iniciando nesta carreira! É um pequeno colibri que significa muita coisa, entre elas, a minha religião: a de tentar.

2.Entrei para o teatro

Uma das melhores escolhas da minha vida! Me permitiu escrever e atuar em um curta-metragem, escrever e apresentar um monólogo e, ao fim do ano, apresentar uma peça de Brecht num teatro cheio. Eu recomendo fazer teatro para cada ser humano deste planeta! Obrigada, Avignon, por ter me ensinado a adorar esta arte.

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3. Um sobrinho nasceu!

Desta vez é o Victor e ele é maravilhoso. E estávamos lá no hospital para ver os primeiros minutos de vida desse ser de luz!

4. Conheci Nando Reis

Amigo de um amigo colocou a gente pra dentro do camarim e pude comentar uma verdade: “sempre lembro de você quando aperto do botão do elevador”. Ele riu e abraçou a gente.

5. Fui num casamento na Geórgia

Uma experiência épica de ir num casamento do outro lado do mundo, sem estar de férias, trabalhando de home office sem parar. Talvez uma das maiores conquistas da minha vida. Incrivelmente, quando voltei, estava mais animada e renovada, com quase zero cansaço!

Quero falar mais sobre isso depois.

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6. Realizei o primeiro Café-Temático da minha casa

Enquanto eu ainda vivia sozinha, precisava muito conversar sobre alguns assuntos. Chamei todo mundo que poderia parecer interessado e fizemos o primeiro café-temático do meu apartamento.

7. Comecei a viver com Thaís

Essa mulher que formou comigo e já me ensinou tanto sobre a vida é hoje minha colega de apartamento. É uma das responsáveis pela minha casa ficar com cara de casa! É ela quem tira o lixo mais vezes na semana, porque além de ser a mais responsável, é ela quem está em casa na hora que podemos colocar o lixo pra fora. É ela quem pensa em comprar pão de queijo quando eu chego de viagem e deixa um bolo prontinho para o dia do meu aniversário. Thaís é uma amiga que, mesmo invisível, leva amor e cuidado para a casa. Por gente assim, eu decidi ficar no Brasil por muito muito muito tempo.

8. Comecei a viver com Karina

Talvez a pessoa com quem eu tenha vivido mais coincidências na vida. Mesma casa, mesmo trabalho, mesmo aniversário…. Porém a gente também encontra muitas diferenças e se diverte com elas. Obrigada, amiga, por me escutar, me motivar e me apresentar uma Belo Horizonte tão alternativa e interessante!

9. Achei um cartão de crédito desbloqueado no chão da rua

No exato momento em que comentava com uma amiga que eu sempre achei no chão a quantidade de dinheiro que precisava para me safar de cada perrengue na rua, mas nunca achei muito dinheiro! Como sei que estava desbloqueado? Porque eu deixei meu telefone na caixa de correio do prédio em frente para que a dona pudesse me contactar (se ela morasse lá! Apostei que sim) e ela ligou e disse que nem tinha bloqueado ainda. Obviamente devolvi e todos passam bem!

10. Conheci o Tranquilo BH

Um programa de saraus por casas e lugares acolhedores de Belo horizonte. Aproveitei para conhecer muitos artistas mineiros e de fora. Uma Belo Horizonte que eu não conhecia.

11. Ofereci um treinamento sobre Seguro Garantia

Coisa que eu nem sabia como funcionava no início do ano

12. Fiz uma palestra na minha empresa 

E chamava-se “Marketing de Conteúdo diferentão”. Posso te mostrar depois!

13. Fiz uma palestra em São Paulo 

Sobre consumo consciente e a relação das marcas com isso. A palestra aconteceu durante a Semana de Social Mídia de São Paulo e o atendimento deles foi incrível.

14. Escrevi dois textos sobre Greenwashing

Para dois blogs bem grandes e passei a gostar muito de estudar e falar mais do tema, que combina com muita coisa que busco para a vida. Os textos podem ser vistos aquie  também neste link aqui!

15. Levei meus pais para assistir Rei Leão no Cinema

Que experiência deliciosa!

16. Fiz revisão jurídica de textos

Aquela oportunidade de juntar os cursos!

17. Passei uma noite inesquecível de karaokê com meus colegas de trabalho

Cantando Lua de Cristal com Mariana e dançando todas as outras com os amigos e os estranhos. Sabe aquelas noites que deixam saudades? Temos essa aí!

18. Fui numa festa do dia dos mortos mexicana

Que experiência bonita! Muita gente contando sobre suas saudades e um clima bom de comida, bebida e música boa.

19. Ganhei um kindle

De um projeto do trabalho! Agora me resta conseguir usar direito (sou meio old fashion com livros).

20. Produzi vinho! (ajudei a)

Isso foi na Geórgia, que aliás, pelo que aprendi, é o país que deu o vinho ao mundo e tem uma técnica totalmente diferente de fabricação de vinho!

21. Comecei a gostar de quiabo

Aos 36 anos, uma hora isso tinha que acontecer!

22. Inventei um vale 4 sorvetes diet com a sorveteria preferida do meu pai para servir de presente para ele

A proprietária gostou da ideia!

23. Coincidi minha roupa com a toalha de mesa do restaurante

Eles têm bom gosto!

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24. Fui numa palestra da Julinha

Essa fada da sustentabilidade!

25. Fui numa palestra da Luiza Voll

Essa fada da comunicação coerente!

26. Fui no show da Lia de Itamaracá

E estava acompanhada de fadinhas e duendes da vida real!

27. Conheci a casa da Luiza Voll em SP

Era um sonho!

28. Corri com o Calma Clima em BH

Era outro sonho! Quase morri, mas amei muito! Essa experiência que eles criaram é incrível. Que amor por Belo Horizonte!

29. Conheci as massagens da Gabi, minha prima que se formou nisso!

E recomendo!

30. Conheci o Mi Corazón

Um bar muito gostoso aqui de Belo Horizonte, na rua mais cool da cidade: a Sapucaí (que não era assim antes de eu me mudar pra França).

31. Fizemos uma mandala de ano novo

com planos mil para 2020…

32. Conheci um moço na praça vendendo bombons e depois de ouvir a história dele, levei-o para jantar!

Não faço isso com todo mundo e nem no impulso, mas neste caso, valeu muito a pena e tive notícias que ele está se formando!

33. Comemoramos o Dia do Amigo do lado no trabalho!

Uma data que criamos para celebrar as alegrias de compartilhar uma rotina com alguém que tá no mesmo barco que você.

34. Fui reconhecida no aeroporto pelo filme que fiz com a galera do teatro!

Foi muito inusitado alguém me parar na fila e falar “acho que te conheço de um filme do cinema”. Aconteceu!

35. Fomos ajudar em Brumadinho

Como voluntários, no dia seguinte do desastre, Luiza, Gugu e eu fomos ao galpão de apoio, ajudar na organização de mantimentos e roupas doadas. Queríamos ter tirado pessoas da lama. Queríamos ter encontrado e salvado diretamente algumas vidas. Isso era bem restrito para os mais experientes. A gente ofereceu o que podia, como podia.

36. Fui num samba com minha mãe num domingo de noite

Vamos de novo, mãe?

37. Plantei um abacateiro

Porque amo guacamole!

38. Paguei uma cerveja para a próxima mesa que pedisse uma cerveja no bar (e assim se iniciou um ciclo)

Esse foi também o meu primeiro date, sem querer, com meu atual namorado. Quando pensamos que seríamos só amigos (amigo nunca é pouco, que fique claro!).

39. Assisti a uma série documentária com meu pai: Cooked

Recomendo esse programa com o pai!

40. Assisti à peça do Amaranto

Sou muito fã!

41. Finalmente vi uma apresentação de dança da Luísa Morais

Outra incrível!

42. Conheci a Luiza, minha sobrinha

Os pais dela se conheceram no meu scrapbook do orkut!!!

43. Conheci Henrique, meu sobrinho

Esse menininho risonho!

44. Levei Catarina, minha sobrinha, para um dia no parque

E acho que nos divertimos num nível muito parecido!

45. Conheci a Orquestra Atípica de Llamas 

Que encontro de gente linda, num som latino maravilhoso!

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46. Fui na festa de 60 anos da mãe da Lívia

Um casamento consigo mesma, quase. Adorei!

47. Conheci o Mercado Novo

Uma gentrificação em Belo Horizonte que, admitamos, é bem instagramável!

48. Gravei um especial sobre as estrelas e as kilonovas com papai para o instagram

Porque conhecimento assim tem que espalhar pelo universo, como as próprias estrelas!

49. Conheci a casa nova da Cynthia na França

Que tem um jardim cheio de árvores para meu sobrinho brincar! Como todo mundo deveria ter, né?!

50. Pisei na Turquia

Mas isso é uma outra longa história!

E o ano acabou deixando muita sede de vida! Assim a gente segue em frente. Obrigada por acompanhar! (feliz dia do trabalho!)

 

50 nuncas de 2018

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50 nuncas de 2018

Que ano, hein galera…

Respira fundo comigo porque 2018 foi barra.

  1. Perdi uma amiga. Meu propósito costuma ser falar de « nuncas » positivos nesta lista, e este item foge um pouco a regra porque foi extremamente marcante, difícil e me tomou muita energia e muito tempo neste ano. Também coloco nessa lista para o caso de eventualmente ela tomar contato com este texto. Para que saiba que não foi esquecida. Para que saiba que sim, ficamos chocados, mas estamos dispostos a reestabelecer tudo. Eu sempre estou disposta a tentar! Sempre! Também foi possível criar novos laços com a sua ida. Algumas pessoas bloquearam o assunto, enquanto outros se uniram mais para viver esse luto. Essa foi a parte bonita da história: a união de gente que nem que se conhecia. Não perdi uma amiga por briga, por doença ou por acidente. Não sabemos porquê ela sumiu e, em tudo que pudemos fazer, nós colaboramos. É possível que ela se sinta deslocada deste mundo e juro que entendo mais do que nunca essa sensação. Se alguém estiver pensando em fazer a mesma coisa, por favor, peço que reconsidere. Se alguém tiver um projeto de apoio a quem passa por isso (de querer sumir) e/ou a quem passa por isso (de perder alguém querido), peço que entre em contato. Minha amiga, por favor, volte!
  2. Tive um livro publicado! Mas deixa eu explicar. O principal formato que ele foi vendido foi em PDF. Era um livro de Direitos Humanos para a OAB. Então não foi dessa vez que a gente encontrou meu nome nas livrarias. Mas foi a primeira vez que eu recebi comissão de direitos autorais !
  3. Levei minha sobrinha pra patinar no gelo. E foi também a primeira vez que eu caí, tentando impedir que ela caísse. Mas estamos bem e valeu muito a pena. Eu era a única adulta na pista de gelo. Não era proibido para maiores, mas aparentemente os grandes não curtem esse tipo de coisa.
  4. Conheci Genebra! Uma cidade linda, mágica, que me pareceu fácil morar. Fiquei um tempo com essa cidade na cabeça e toda a sua diversidade (50% da população não é de lá). Lá assisti um cinema gratuito na praça, junto com amigos do hostel e ri como poucas vezes este ano. Genebra também tem uma sede da ONU muito importante!
  5. Fui no museu da Croix Rouge (Cruz Vermelha) em Genebra e pude ver de perto o primeiro tratado de Direito Humanitário lá firmado. Também passei a ter contato com o pessoal da direção do museu para propor um projeto que em 2018 eles ainda não podiam aceitar. Mas vai que em 2019…
  6. Peguei carona na estrada com meus amigos espanhóis num furgão. Decidimos de um dia pro outro. E fomos cantando! Eles pagaram meu café da manhã. Seus lindos!
  7. Assisti a uma peça de dança no Palácio do Papa, em Avignon. A cidade, conhecida por seu enorme e maravilhoso festival de teatro, tem algumas peças muito finas e caras do festival chamado IN (geralmente eu só assisto peças do Festival OFF porque é o que cabe no meu orçamento). Pois desta vez eu ganhei um ingresso e fui. Embora tenha sido um momento especial, eu considerei a ideia, em si, da coreografia, muito ruim e tenho sérias críticas aos artistas que elitizam a arte tornando-a incompreensível mesmo para quem tem muito conhecimento de arte (sim, agora estou falando de mim mesma). Quando a pessoa tem oportunidade de mostrar a arte dela para um público tão rico e diverso como é o público do festival de Avignon (ainda que seja o público IN), penso que tem também a obrigação de passar uma mensagem mais clara (mesmo que com requintes de uma arte exclusiva). Aliás, esse tem sido meu lema : cada oportunidade é também uma obrigação!
  8. Fui a um casamento em Pavia, na Italia. Casamento do meu ex-roommate espanhol e com a minha ex-professora de Italiano que é italiana. Claro que eles eram muito mais do que isso para mim. São dois grandes amigos, que me salvaram do abandono em terras estrangeiras quando eu não conhecia quase ninguém na França. O legal desses casamentos em outras cidades é que, além da viagem ser uma delícia (e eu dividi o Airbnb com mais 4 homens gatos !) a gente consegue reeunir uma turma que já está morando em lugares muito mais distantes. Eu sinceramente continuo sem entender quem é supernacionalista e a favor do bloqueio das fronteiras. Acho a coisa mais triste do mundo se fechar, ainda que seja para pessoas que você considere mais pobres que você. Na real, entendo que pobre é quem não se importa.IMG_4568
  9. Consegui um emprego na minha área com carteira assinada. Sério, essa foi a primeira vez na minha vida que uma empresa de Comunicação se ocupou em assinar a minha carteira. E, embora eu também aceite participar de projetos e freelas, eu não quero nunca mais reviver algumas condições de trabalho que já aceitei na vida. Tô ficando mais chata e exigente e estou curtindo essa fase!
  10. Fui para Alicante, na Espanha ! Uma cidade praiana, muito animada, com muita gente bonita e comidas gostosas .
  11. Conhecia a Bruna, minha primeira estagiária do Direito é Legal. Ela foi morar na Espanha também e me recebeu na casa dela. Cozinhou pra mim e nos acompanhou em vários passeios. Além disso, nós arrasamos numa noite de samba e flamenco, que até hoje a galera comenta !
  12. Fiz uma aula de flamenco na Espanha ! Só isso mesmo.
  13. Fui na maior passeata feminista da Espanha no dia da mulher ! E conheci um monte de mulheres incríveis, que melhoraram muito a minha passagem por lá.
  14. Por falar em passeatas feministas, também fui na passeata do #elenão , onde conheci gente maravilhosa. Que bom que Belo Horizonte ainda tem essas pessoas !
  15. Minha primeira prima se casou ! E nós dançamos a noite inteira, inclusive com os garçons!
  16. Fui ver uma apresentação de canto e dança, com performances da minha amiga Jaque no Teatro Palácio das Artes em Belo Horizonte. Ela apareceu no palco e gritou « Dança também, Didi ». Obedeci ! Foi ótimo.
  17. Conheci Amsterdam ! E, além de reencontrar Ignês e Julio que moram por lá, me encantei com a quantidade de jardins improvisados. Com a união muito bem feita que eles fazem da tecnologia de ponta com o antigo, com a natureza e com a vida slow. Parabéns, Amsterdam !IMG_5942
  18. Fui na exposição da Banksy em Amsterdam ! Depois de pegar uma chuva fenomenal e ter umas 4 interações muito engraçadas na rua por causa disso. Como eu amo interações nas ruas… Por favor, Brasil, façamos isso ser mais possível sem ser cantada barata de gente sem noção. Acho que Banksy contribui para essas interações mais atrativas.
  19. Fiz uma noite de bolos em casa. Cada amigo fez seu próprio bolo ou torta e trouxe pra gente dividir e a casa ficou cheia, lotada. Do jeito que eu gosto ! Uma das formas de não levar bolos dos convidados é obrigar eles a levarem um bolo pra você. Por favor, entenda o meu trocadilho forçado ! Aproveitamos para cantar Evidências com os amigos brasileiros que estavam presentes.
  20. Estive num país vencedor da copa do mundo, no dia que ele venceu a copa do mundo e que, depois de meia noite, era também o meu aniversário. Foi uma comemoração fenomenal ! Fizemos trenzinho na rua (eu que puxei) com umas duzentas pessoas. Dançamos até ! Aliás, dança foi um elemento muito presente neste ano !
  21. Apareci na divulgação de um restaurante de BH por conta da minha dancinha ! Lembra, Lucas, foi no seu aniversário?
  22. Apareci na conta de instagram do meu maior ídolo musical vivo por conta de uma outra dancinha ! E isso rendeu…
  23. Consegui entrevistar o meu maior ídolo musical!!! Que é esse mesmo cara do item anterior.Tudo começou com a dancinha, mas depois virou uma negociação séria e em espanhol. A gente conseguiu ser recebido por ele no camarim depois do show em Toulouse (isso devia virar outro tópico). Se você não conhece Calle 13, por favor, resolva esse problema agora. É um trabalho de hip hop latino que só fui conhecer vivendo fora do Brasil. Não entendo o brasileira ficar de fora dessa cultura. O resultado final apareceu apareceu no site do Mídia Ninja. Ah, e taí outra coisa!ReneFoto
  24. Comecei a escrever pro Mídia Ninja ! Tudo começou quando eles republicaram um texto meu que deu muita repercussão sobre as fronteiras.
  25. Tive esse texto sobre as fronteiras exposto num projeto na Andaluzia, idealizado pelo meu amigo Antonio Gonzalez ! Poemas para a Migração. Aqui tem link pro vídeo.
  26. Comecei a escrever para a PorQueNão e, mais do que isso, aprendi muita coisa com eles. Procure meus textos por lá. E leia os outros também que são muito bons!
  27. Minhas duas melhores amigas da escola engravidaram ao mesmo tempo e me contaram ao mesmo tempo. Eu vou ter muitas barriguinhas de neném pra morder (de leve). Amo ser tia! E sou a tia mais legal que você puder imaginar.
  28. Minha colega de estágio do início da faculdade de Direito virou juíza! Juíza ! Eu sei que esse nunca nem é meu, mas é que agora eu tenho simplesmente a melhor consultora de todos os tempos, mas não vou revelar a área não.
  29. Dei carona para um cego que vi perder o ônibus na rua. Estava tendo um dia ruim e fazer isso melhorou em 90% a qualidade do meu dia. Espero que a dele também. Não sei como, quilômetros depois, um cara que estava andando a pé na rua, veio falar comigo que gostou da minha atitude. Fico me perguntando como ele sabia… E, sinceramente, acho que essa atitude tinha que ser normal. As pessoas realmente precisam começar a dar mais assistência umas pras outras na cidade.  Sei que é difícil porque ninguém confia em ninguém. É triste que, por causa de uns abusados, o mundo inteiro se ferre.
  30. Fiz um bolão da mega sena da virada. Primeira vez mesmo! E espero que funcione !
  31. Conheci a Lorena, que me conheceu pela internet e havia me contratado em 2017 para um trabalho pro Passagens Imperdíveis. A gente tinha tantas afinidades que não tinha como não ficar amiga dela. Depois eu conheci a Jaiane ! Uma moça muito cheia de planos que, neste momento está construindo uma escola no Quenia. Eu acompanhava ela no instagram desde que fizemos juntas dois projetos diferentes pro Passagens Imperdíveis.
  32. Conheci a cidade de Valência na Espanha. E, de novo, fiquei com vontade de me mudar pra lá. Eu disse “de novo” porque não é muito difícil me fazer ter vontade de mudar pra uma cidade tão rica, cheia de eventos, restaurantes gostosos e gente na rua.
  33. Fui na noite das Idéias em Avignon. Olha que nome bonito pra uma coisa que deveria acontecer sempre, em todas as noites !
  34. Fiz um curso de fotografia na Escola de Belas Artes de Avignon. E aprendi a fotografar insetos de muito perto e pessoas de muito longe.
  35. Entreguei flores nas ruas com meus primos no dia dos namorados. Eu costumo fazer isso todo ano porque é também o aniversário de casamento da minha avó. Mas este ano convidei meus primos e eles aceitaram ir comigo e foi umaexperiência ainda mais legal. Antes do feito, todo mundo almoçou junto! Delícia.IMG_1652
  36. Recebi macacos na minha casa. No Brasil, havia uma árvore muito linda e frondosa na porta do meu prédio. Um dia acordei com uns gritos. Eram micos leões nos galhos em frente. Quatro miquinhos ! Peguei banana e eles vieram. Eu estava meio chateada com o Brasil naqueles dias e essa surpresa me salvou por um bom tempo. Pena que eles nunca mais voltaram e a árvore, embora saudável, foi podada ao extremo porque a vizinha queria « sol ».
  37. Fui na passeata pelo imigrante em Avignon. Fizemos uma longa marcha. No meu cartaz, dizeres de uma mineira « sem imigrantes, sem pão de queijo », não sei se todo mundo entendeu. Acabo de pensar que este foi o ano em que eu mais participei de passeatas. Se bem que quando eu tinha uns 7 ou 8 anos eu era mais engajada, acho.
  38. Escrevi para a Ankawa, uma ONG peruana. Foi assim, conheci o fundador dessa ONG de Direitos Humanos por intermédio de um amigo. Conversamos por horas no telefone sobre o projeto dele e eu fiquei com muita vontade de participar de alguma forma. Mas ainda não sabia o que do Brasil poderia escrever para eles (que fazem projetos no mundo todo). Então aconteceu aquela tragédia horrível da morte da Marielle Franco. E foi isso que fiz. Escrevi o texto em três línguas e ilustrei com um desenho também meu.
  39. Criamos o @heroisdagente . Um projeto com uma amiga de instagram, a Maila. Foi dela a ideia de fazer um instagram só de gente que está construindo um país, um mundo, uma comunidade melhor. Sem apelo à religião, ou a política, a gente seleciona pessoas de todos os tipos, criativas e lutadoras que merecem ser exaltadas pelo que fazem com o tempo delas ! Segue a gente lá !
  40. Fui numa cidade francesa para contar sobre a grande injustiça que ela viveu durante a Revolução Francesa. Fruto de uma pesquisa para uma matéria do jornal, a história de Bedoin me interessou tanto que eu fui até lá para conhecer e contar sobre o ocorrido para o mundo. Como eu disse, pra cada oportuniade, eu também tenho enxergado uma obrigação. E vice-versa.
  41. Conheci o Pirula ! Mas ele não me conheceu. Porque eu fui na palestra dele, mas a fila era tão grande para dar um abraço nesse cara que eu não pude ficar. Pirula, te amo, cara. Admiro demais o trabalho que ele faz e a paciência que ele tem.
  42. Deixei uma carta para elogiar o jardim de uma vizinha que eu não conhecia. Ela respondeu por e-mail (porque eu deixei meu e-mail) e começamos a nos corresponder ! Ela tinha me convidado pra tomar um vinho num dia que eu não podia, mas quem sabe uma próxima vez, vizinha. Pra mim, vizinhança tem mais é que ser amiga mesmo. Tô sentindo muita dificuldade com isso no Brasil.
  43. Fui na Fazenda dos Crocodilos. No sul da França tem uma fazenda famosa com mais de 100 crocodilos. Aproveitei uma carona do meu roommate que ia levar os filhos e fui também. Acho que curti mais que eles !
  44. Antes de votar nessa eleição maluca, eu mandei perguntas para todos os meus candidatos do legislativo. Quase todos responderam. E eu só votei em que me respondeu e eu estava ok com as respostas. Apenas uma das minhas candidatas ganhou.
  45. Fui na exposição de Steve McCurry, o fotógrafo da National Geographic. Aconteceu quando eu estava em Pavia, no dia seguinte do casamento. Enquanto alguns amigos dormiam, outros acordaram e saíram pra correr, outros foram fazer compras, e eu fui nessa exposição magnífica.
  46. Ganhei meu sobrinho Dylan! E ele tem o cheirinho da paz. Que saudade de você, cabeça de coquinho.
  47. Interrompi uma entrevista por skype para separar uma briga de gatos que entraram pela janela. Foi inusitado. O moço do outro lado foi compreensivo, mas eu estava com uma blusa bem formal e por baixo eu só tinha um short jeans. Algo divertido pra contar  de um ano que não foi tão divertido quanto parece por essa lista. Os gatos passam bem.
  48. Participei de um projeto com a Contente, que além de ser uma empresa que eu admiro, é também a empresa de duas queridas amigas. Que bom que pudemos trabalhar juntas !
  49. Comecei meu projeto #danceporumacausa nos Stories do Instagram. Eu sempre ficava dançando lá ( @diorelak ) pra animar minhas noites, mas agora a gente tem mais conteúdo e motivos pra dançar! Os temas variam desde salvar abelhas até conhecer mais sobre democracias no mundo. Por falar nisso, também comecei o projeto Inseto é Um Barato no facebook.
  50. Entrei na cabine do piloto, com os pilotos! Achei que isso tinha sido proibido. Que bom que permitiram. Acho impressionante eles saberem para que serve cada botão. Eu não sei nem do controle remoto da televisão. Me convidaram para tirar uma foto lá na cadeirinha mesmo.

Queridos, para este ano novo deixo aqui a mensagem que deixei no meu projeto Direito é Legal. Obrigada pela companhia.

Foi há 12 mil anos que o homem criou a agricultura e pôde deixar de ser nômade. Foi também graças à agricultura que as cidades puderam começar a existir e a partir daí, as trocas, o comércio, o dinheiro, a política, a imprensa, as séries, a internet e a cama de casal. A revolução agrícola revolucionou tanto a História do homem que alguns historiadores consideram que a gente deveria contar os anos a partir disso e não da forma cristã como tem sido. Eu ainda acho que, além de mudar essa conta, a gente podia ter uma outra revolução, desta vez a nômade! Como seria bom se a gente pudesse se espalhar mais. Se redividir e rever as fronteiras pacificamente. Como seria bom se a gente encontrasse, para todo canto, uma acolhida, uma novidade e pedaços do que chamar de felicidade. Como seria bonito reconhecer semelhanças e aprender com as diferenças. Numa grande colheita planetária, eu insisto na ideia de que seríamos mais felizes, amigo Sapiens. Conto com você pra pensarmos isso juntos! Aqui termina 12018.

 

A regra é clara : onde não puderes amar, não te demores 

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Essa moça, a Frida Kahlo, você pode não gostar das pinturas dela. Pode achar colorido demais, surrealista demais, doloroso demais, mexicano demais, oye ! Mas chamo sua atenção pra uma frase da artista : Onde não puderes amar, não te demores. Pois é, é a mesma que está no título.

Leia isso com o sotaque que quiser, o importante é que a gente perceba a grandeza dessa ideia. E vou usar exemplos pessoais para ilustrar.

Trabalhava eu num escritório muito grande. Melhor hora do dia era a hora do almoço. Chamava a galera toda pra comermos juntos porque sou dessas! A gente praticamente fechava o restaurante à quilo da rua. Fazíamos piadinha com as cenouras, contávamos os casos do fim de semana, reclamávamos do sistema do escritório, do sistema judiciário, ríamos de novo, experimentávamos as comidas uns dos outros, sugeríamos soluções pros problemas do mundo. E assim foi até que os sócios se separaram e com isso o clima do escritório mudou muito. Todos se dividiram. Muita gente saiu. Clientes saíram. O ambiente ficou bem pesado. Quem tinha um plano B foi pro plano B e eu me encontrei almoçando sozinha. Por dias. Tentei resolver de todas as maneiras que pude. Continuei sozinha. O trabalho tinha virado só trabalho. Morro de dó de quem trabalha apenas por dinheiro. E ficava com dó de mim mesma comendo naquela mesa de restaurante sozinha. Eu, uma pessoa que gosta da companhia de outras pessoas (mas não de todas!). Quando a vida me deu a oportunidade de sair, saí.

Em relacionamentos é igual. Vivi alguns pra contar. Inícios lindos, você não tenha dúvida. Se é pra começar alguma coisa, que comece bem. Hoje não sei nem mais descrever, porque a sensação já se apagou mesmo. Só lembro de ter achado na época que era bom. E ter vivido todas as milhares de rupturas como pequenas mortes, pequenos lutos. Dores insuportáveis que hoje também não me lembro mais da sensação. A gente esquece do bom e do ruim. Mas uma coisa não esqueço. Tentar resolver problemas, conflitos e crises vale a pena e deve ser feito. Mas forçar a barra com quem não te quer não vale. Primeiro que a chance de funcionar é mínima, e se funcionar, a chance de virar um relacionamento abusivo é enorme. Logo, não vale a pena ! Isso faz muita gente adoecer.

Frida tinha calo nessa história: não demore num amor não correspondido. Mas mesmo para ela era difícil. A melhor dica que já ouvi pra segurar essa barra é doar todo esse amor para seus projetos, sua família (a parte que te ama) e pra natureza (animais e plantas). A chance de ser correspondido é bem maior e isso vai te devolvendo a energia perdida. Olha o case Adele! Também acho digno escutar uns sertanejos !

(adoro pagar de bem resolvida enquanto escrevo com um olho no teclado e outro no celular!)

Amizades igualmente merecem uma revisão. Ela é sua amiga por quê mesmo ? Quando foi que vocês puderam contar uns com os outros ? Você convida pra tudo e eles não te convidam pra nada ? Cadê correspondência ?

Outro dia, conversando com uns artistas, perguntei o que era « amar » e ouvi « doar sem esperar de volta ». Ah, os artistas… Isso pra mim é muito bonito, mas me serve apenas como a descrição do amor materno/paterno na fase da primeira infância. Mesmo os pais, imagino, esperam algum retorno positivo dos filhos depois de mais velhos. Não necessariamente na mesma moeda. Não necessariamente no mesmo nível de entrega, mas num certo reconhecimento, uma certa atenção. Uma reciprocidade.

Reciprocidade, meu irmão, é uma palavra que faz sentido na hora de falar de amor, de cuidado, de espera e até de ambiente de trabalho. As pessoas precisam ser bem recebidas. As pessoas precisam de retorno. Até planta precisa de luz!

Uma amiga e eu fazíamos a relação com o girassol. Essa flor que não perde tempo com o que é sombra. Ela vai em busca do que dá energia e brilha de volta. Nessa onda, atrai ainda mais coisa boa (abelhas, borboletas, polinizadores em geral).

Um pouquinho de força todo mundo tem dentro de si. E pode ser multiplicada. Melhor que se multiplique.

Vou ali preparar meu jantar pra comer sozinha, de novo, nesta cidade onde já tive tantas histórias, tantos amigos e tantos amores. Tem acontecido assim, apesar dos meus esforços em contrário. Isso não pode e nem vai durar muito tempo. A regra é clara.

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Conheça Frida Kahlo

50 nuncas de 2017

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50 nuncas de 2017

Desde 2013 que ando esperando que o ano que vem seja melhor. Também foi a partir do fim de 2013 que comecei com essa ideia de fazer uma lista de 50 nuncas. Tem pouco sentido a gente esperar que as coisas sejam diferentes se a gente continua fazendo tudo sempre igual.

Acho que não precisam ser 50 coisas. E nem 50 coisas absolutamente diferentes. Só de mudar o jeito que a gente vive nossa rotina, ou a forma como a gente enxerga uma ideia ou lida com ela já é uma melhorada que podemos dar pro nosso futuro.

Beleza, vamos então esperar que 2018 seja um ano melhor. De muita paz e saúde lá fora e aqui dentro. Espero também ser uma pessoa melhor em 2018, poder produzir mais, poder concretizar umas ideias, conhecer mais gente, praticar uns esportes e umas aventuras diferentes, ter mais paciência, mas ter mais reflexo também. Agir à tempo. Falar alto quando preciso e não falar também como resposta. Salvar mais bicho da maldade humana e salvar mais humanos do que é desumano.

Tava falando disso outro dia, minha religião se chama Tentar !

HarryEuAmor

  1. Fiquei ruiva. Começou com uma tinta que destruiu meu cabelo e depois passei pra henna que destroi menos. Estou gostando, mas pode ser que eu mude de novo. Isso aqui não é um contrato.

CabeloRuivo

2. Fui pra Berlim com meu pai. Como tenho origens alemãs por parte de pai, isso foi meio que um sonho realizado. O problema é que estava frio demaaaais em janeiro. Mas foi a época possível ! Adorei ver papai praticando o alemão dele. De todas as minhas origens, a origem alemã é a que eu menos sinto correr nas veias, mas aprendi a apreciar muita coisa desse povo, como por exemplo o fato de encontrar diversos grupos de velhinhos rindo nos restaurantes. Por que não vemos isso no Brasil ?

 3.  Perguntei para alguns artistas o que era arte. Com meu trabalho como jornalista em Avignon, tive a oportunidade de encontrar artistas de todo tipo fazendo exposição por aqui. Alguns muito maravilhosos e alguns bem picaretas mesmo. Pela primeira vez, questionei sobre o que era arte para alguns deles. Continuamos sem uma resposta objetiva. E gostamos disso.

4. Encontrei minhas tias e primos em Paris. Paris não é aqui do lado e não é tão fácil assim ir para lá. Mas consegui e tive a oportunidade de fotografar a primeira vez que tia Raquel viu o arco do Triunfo que combina tanto com a mulher que ela é. Que emoção! Amo vocês.

primosParis

5. Fiz dread no cabelo pela primeira vez. Cynthia e Marta me ajudaram na produção caseira, mas não consegui fazer durar muito tempo. Talvez numa próxima vez, sem esquecer o discurso da apropriação cultural que é relevante, mas não impeditivo de nada, ao meu ver.

6. Fui numa reunião sobre óleos essenciais. E achei que seria meio mais ou menos, só que saí convencida de que é uma arte.

7. Adotei um ninho de baratas. Calma. Essa é talvez a minha maior esquisitice, mas me fez muito bem descobrir e acompanhar o crescimento de um ninho de baratas no centro de Avignon. Até por ser uma coisa só minha mesmo. Uma atividade que não me lembra mais ninguém neste mundo. Tenho fascínio pelos insetos. Estava lá um dia de madrugada (que é a hora que elas saem do ninho para comer a sujeira que nós deixamos) observando o grupo quando um mendigo chegou e se agachou do meu lado perguntando o que tanto eu olhava. Contei pra ele e ele conversou um pouquinho, mas passou a me evitar. Ficou com dó de mim.

8. Abordei um comediante stand-up na rua com a última fala da peça dele, apresentada 4 anos atrás. Era uma frase, apenas uma frase (em francês), mas que representou muito pra mim naquela época, por isso eu tinha decorado. Ele ficou tão impressionado que construímos uma amizade em cima disso. E mandei ideias para a próxima peça dele. Ah, o festival de Avignon é a melhor coisa do mundo. Toda cidade merece ter um festival de teatro onde os artistas realmente passem o dia na rua, circulando e conversando com os meros mortais.

9. Inventei que eu era Head Hunter em uma festa e acreditaram em mim. Não sou de inventar personagens, mas durante o festival de Avignon fiquei com preguiça de contar minha vida e comecei a criar histórias. Acontece que um produtor teatral realmente acreditou que eu era head hunter até a hora que não aguentei mais e contei a verdade. Mesmo assim, nossa amizade se manteve. E se mantém.

10. Passei três horas correndo atrás de um cachorro fugitivo. O cachorro de um amigo, que dormia acorrentado a uma cadeira num bar, ao ser acordado por um transeunte, se assustou e saiu correndo com a cadeira amarrada (quem já leu Marley e eu?). Saí correndo atrás por motivos de : era um cachorro correndo com uma cadeira, oras. O pessoal de uma pizzaria mais na frente, conseguiu pegar o cachorro, mas ao desenrolar ele da cadeira, ele correu de novo. Nisso o dono dele estava vindo atrás e eu tentei correr mais para alcançar, mas o cachorro ganhava de muito. Uma hora perdemos ele de vista. E meu amigo, que trabalhava como palhaço temporariamente aqui e não conhecia a cidade, precisava de ajuda. Ficamos boa parte da noite chamando o cachorro, perguntando para as pessoas, até que encontrei outro amigo que viu para onde ele tinha corrido e conseguimos chamá-lo de volta. Ao chegar em casa, 3h da manhã, meu roomate estava dando uma festa aqui no apto, achando que eu estava dormindo pesado no meu quarto ! Quando contei que estava todo esse tempo correndo atrás de um cachorro, ninguém acreditou.

Thao

11. Dois homens entraram na minha vida este ano e tenho que anunciá-los : Shahid e Bertrand. Espanhol e francês. Amigos pra toda hora. De comprar bolo na padaria a ficar perdido em montanha (aguarde os próximos itens da lista). Fizeram meu ano mais feliz.

12. Meu primeiro casamento na Itália. Meus amigos se casaram em Gaeta e lá fomos nós em comitiva jogar arroz de risoto nos noivos. Foi um dos lugares mais bonitos que já vi, mas isso a gente pode falar de quase todo canto escondido da Itália. Vi a maior pizza brotinho da minha vida. Fotografei algumas baratas italianas e conheci muita gente legal. Amo esse povo. Lembrando que tenho origens italianas também e essa eu sinto pra valer !!!

meninasCasamentoSara

13. Comecei a fazer irrigação por capilaridade nas plantas aqui de casa. Funciona muito bem com o pé de abacate.

14. Encontramos e salvamos um ouriço na rua. Ele passa bem, vive nos quintais de diversas casas e não nos espetou.

Ouriço

15. Tive um texto com mais de 10K de likes na internet. Isso vale muito para quem vive de comunicação. Tudo porque divulguei as fotos que minha tia fez de um morador de rua que vende trabalhos de tricô e croché em BH. Divulguei com o pessoal do Razões para Acreditar.

16. Conheci a Andaluzia. Um dos lugares mais místicos que eu poderia conhecer. Uma reunião de culturas, com muita música e gente bonita. Mas um calor infernal. Evite passar por esses lugares em julho.

Andaluziaaa

17. Vi o tratado de Tordesilhas. Em Sevilha, na Andaluzia, conheci o contrato que dividia o mundo entre Portugal e Espanha. Saí do museu tão feliz que abracei uma desconhecida na rua. Ela abraçou de volta.

18. A textura do meu cabelo atingiu o ápice da sua naturalidade. E assim seguimos. Toda vez que eu falo ápice lembro do Pablo. Pablo, beijo pra você.

Tofalando

19. Fui numa reunião dos Vigilantes do Peso. Depois fui contratada por eles porque ano passado perdi uns bons quilos. Com essa contratação, acabei assumindo que perderia o casamento de três amigas no Brasil e um curso na universidade de Coimbra com a Adriana Calcanhoto. Ia trabalhar de bicicleta.  Nunca cheguei atrasada. Duas semanas depois recebi um e-mail oferecendo uma promoção e um treinamento em Paris. Me falaram que eu teria que comprar um carro. Custei, mas comprei. Cheguei em casa com o carro em casa e encontrei minha carta de demissão dizendo que eu não era suficientemente móvel. Se a proposta deles era me fazer perder peso, posso dizer que realmente funcionou.

20. Estabeleci uma relação muito boa e maravilhosa com meus vizinhos. Que eu amo e passaram a fazer parte da minha vida.

21. Aprendi a fabricar meu próprio creme hidratante. E vale muito mais a pena. Aprendi também que cremes não tiram ruga, não emagrecem, não mudam estrutura de nada. E aí ando espalhando esses aprendizados sobre o marketing mentiroso na página do Lawsumerism.

22. Iniciei um novo projeto Lawsumerism. Um projeto que une Direito com consumo consciente. Seu nome é um trocadilho com Lowsumerism (consumo lento). Vai lá no insta @lawsumerism e no facebook de mesmo nome. Estou apaixonada com essa ideia.

23. Conheci Toulouse. Uma cidade francesa linda e cheia de vida. Talvez a cidade mais viva das cidades francesas que já conheci.

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24. Fiquei seis hora perdida numa montanha. Isso não foi muito longe de Avignon, mas nossa ideia era uma caminhadinha de 40 minutos e acabou virando seis horas porque pegamos um caminho errado e não conseguimos reencontrar a saída tão cedo. Felizmente, não estava sozinha e estava com pessoas muito maravilhosas que começaram a cantar para espantar o desespero. A experiência virou textão pra Review.

Ondeestamos

25. Conheci Albi, outra cidade francesa, onde nasceu Toulouse-Lautrec. Adorei a beleza da cidade, mas senti falta de gente na rua.

26. Conheci Deborah e Tiago. Dois brasileiros que salvaram minha vida social em Avignon. Deborah, inclusive, veio para Avignon depois de descobrir o meu blog, o que me alça para o patamar de influencer digital, não é mesmo minha gente ??

27. Descobri uma forma de me divertir sozinha acompanhada. E isso criou uma série de festas dançantes no meu quarto enviadas para a internet pelo stories do Instagram, que aliás, só comecei a usar este ano e isso mudou bastante minha forma de comunicar com o mundo ! Tento ser educativa ! (@diorelak)

28. Fui guia de três cidades para o Passagens Imperdíveis. Avignon, Aix en Provence e Marseille. Para isso, estudei e andei bastante. Foi um trabalho muito mais duro do que parece, mas adorei. E me apaixonei por Aix e Marseille, que sempre foram próximas da minha cidade, mas eu nunca tinha realmente, realmente me envolvido com elas.

Marseille

29. Conheci o atelier de Cézanne. Foi em uma das minhas gravações para Aix en Provence. O atelier foi uma casa que ele construiu para trabalhar. O artista só vendeu um quadro ao longo de toda a vida, e hoje é referência no mundo. Em sua casa, também temos acesso ao jardim por onde ele passeava e buscava inspiração. Quase chorei.

AtelierCezanne

30. Visitei o quarto de Van Gogh em Saint Remy. E pela primeira vez, conheci uma faceta da história dele que eu não conhecia bem. Embora sempre tenha gostado de História da Arte, eu mais ouvia falar de Van Gogh como um cara que cortou a própria orelha (história que também é questionada), mas a verdade é que todo mundo tem sua beleza e sua dureza e Van Gogh foi muito mais do que isso. Ele pintava praticamente um quadro por dia, sofria com muitas questões e buscava amigos e algum reconhecimento. Não deu muito certo em vida. Mas ele tentou, velho, e só me faz pensa até quando ainda seremos tão cruéis e egoístas com quem é diferente do padrão? Mais um que trabalhou a vida inteira e não ganhou nada por isso. Mesmo assim, nos deixou tantos presentes.But I could have told you, Vincent, this world was never meant for one as beautiful as you”.

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31. Fizemos um recital de poesia diante do fenômeno de estrelas cadentes. E por falar em noites estreladas, no dia em que as estrelas pareciam cair do céu, eu e duas amigas pegamos o carro e fomos para um antigo forte numa cidade próxima daqui reparar no céu. Enquanto isso, aproveitamos para ler poesias de Galeano. Fantasiei que cada estrela era um artista piscando pra gente aqui nesse mundo de meu Deus. Combinou !

32. Consegui desentupir uma pia. Sozinha !

33. Perdi a ilusão com a idéia de amor romântico. E você?

34. Descobri que a tenebra é um inseto que pode ajudar muito na reciclagem. Como a maioria dos insetos, a tenebra é muito útil e também ajuda na reciclagem. Conversando sobre isso com meu avô, descobri pela wikipedia que foi estudado que sua larva é capaz de comer alguns plásticos e isopor, duas paradas dificílimas de reciclar. Mas ainda assim, não é para você largar mão de cuidar do seu lixo porque acha que um besouro vai salvar sua vida, beatlemaníaco. Todo esse trabalho é lento, e, embora seja de grande serventia, nós, os seres humanos, temos que ser menos inúteis que um inseto e pararmos de acelerar a destruição do planeta.

35. Conheci Belém, no Pará. Apenas em um dia. Não consegui conhecer tudo, mas adorei as pessoas e a vista do lugar de onde vem uma das minhas melhores amigas: Ju. 

Belem

36. Fui num baile de máscaras em Londres. E essa ideia que a gente tem que velho não sai, não dança, não se diverte, tá meio retrógrada. Em Londres, me diverti muito com uma galera de idade bem variada, tinha gente quase chegando nos três dígitos e mandando muito bem no verdade ou consequência. Sem mais.

37. Encontrei meu tio, tia, Lívia, Tiffany e Vanessa em Madrid. E nosso almoço foi agraciado com relatos do caminho de Compostela que meu tio fez. E toda história de caminho é também uma história de superação e luta interna, né ?! Tio, escreve um livro !

38. Comecei a escrever um livro que deve efetivamente ser publicado. É um livro didático. Estou amando e aprendendo muito com as pesquisas. Preciso terminar logo. Falaremos mais disso depois.

39. Conheci Pompeia. Uma cidade que há dois mil anos foi destruída pela fúria de um vulcão. Mas pensa numa cidade moderna. Era Pompeia, há dois mil anos. Uma cidade que tinha shopping center, porta de correr na frente das lojas, guia de orientação sexual e farmácia, e pessoas diferentes conviviam sem ódios.

Pompeia

40. Nasceu uma beringela na nossa plantação de apartamento. É possível ! E quero recuperar o tempo que perdi não sendo uma pessoa interessada nesse assunto. Desculpa. Agora isso tudo me interessa muito.

41. Encontrei D. Diva e Clarice aqui em Avignon. Mais um item de caráter pessoal, mas deixa eu só dizer que essas mulheres são muito maravilhosas e eu aprendo muito com elas. Todas duas amigas originalmente da minha mãe que agora são também minhas porque amizade não tem idade, né amores. O que conta é o nível de conversabilidade das pessoas.

42. Entrei numa onda de produção de menos lixo. Depois que fiz uma matéria para o jornal daqui falando da experiência de uma semana sem produzir lixo (que não foi 100% eficaz, mas ajudou muito), passei a estudar mais o assunto e me ligar mais nas bobeiras que nós humanos fazemos pela « praticidade ». Descobri o instagram Por favor menos Lixo que me inspirou para mais um monte de coisas. A gente vai mudando aos poucos e tentando aos poucos, e isso faz muito bem !

43. Tive uma festa de aniversário à distância. Aconteceram umas coisas meio desagradáveis aqui no meu apartamento na época do meu aniversário, então não deu para comemorar meus 35 anos aqui. Em compensação, no Brasil, meus pais reuniram a família toda e fizeram mó festão lá em casa com tios, primos, avós, gato e cachorro. Me ligaram no skype e a gente ficou um tempão se falando. Eu amei. Foi a melhor coisa !!!

44. Meu aniversário foi na rua. Por outro lado, comemorei meu aniversário na rua, no meio do festival de Avignon que tem festa todo dia. Entre amigos, vizinhos e desconhecidos, a gente dançou, bebeu e riu muito na beirada do riacho. O tipo da coisa que vai passar no meu filminho de vida naqueles segundos antes de morrer. Dizem.

Nossoaniverua

45. Conheci um grupo de caminhadas ecológicas em BH. Nunca tinha feito e descobri esse grupo maravilhoso que sobe e desce morros e cachoeiras pela região. A maior surpresa é que quem me convidou foram dois ex alunos de quando eu dava aula de educação artística numa escola, há mais de 10 anos. Obrigada, gente !

CaminhadaEcologica

46. Passei a falar mais quando não gosto de alguma coisa. Este ano eu fiquei mais brava, sabe. É um exercício de dosagem e timing. Mas a Didi boba tá saindo do meu corpo e vai ficar só mesmo a boa (nesse sentido que você pensou também!).

47. Consegui fazer slackline por mais de, sei lá, 5 segundos ! É !

48. Conheci o vulcão Vesúvio. Aquele mesmo que destruiu Pompeia. Fui lá na boca dele. Dizem que de dois em dois mil anos ele fica furiosão. E sabe quando foi a última vez que ele ficou muito bravo? Há dois mil anos. Viva Itália !

Vesuvio

49. No fim do ano, participei de um concurso de sweater feio. Na verdade, era um concurso de roupa diferente, não necessariamente feios, coitados. O que é o belo, não é mesmo, Gracyane Barbosa? Eu tenho um sweater muito antigo, herdado da minha mãe, que sempre que uso as crianças me cumprimentam na rua. Acontece que embora meus amigos tenham se esforçado em votar em mim, um outro cara venceu o concurso. Fiquei meio frustrada, mas o importante é participar.

  1. E por fim, o que vamos fazer hoje é um nunca para mim: um reveillon appartathon. Uma maratona de apartamentos entre amigos e vizinhos. Começa aqui e em casa, com música e degustação sensorial (atividade recreativa de comer de olhos vendados para quem quiser participar). Depois vamos migrando para outros apartamentos de amigos que tenham outras atividades como caça ao tesouro, espaço latino, speed dating e sempre música ! Amei essa ideia dos meus vizinhos. Amo que temos essa relação. E te digo para tentar também com os seus.

Um abraço, obrigada pela companhia e feliz ano novo !!!

 

Projetos iniciados este ano:

Bom dia de tia: página do facebook que fala da história dos dias com humor e imagens enviadas por tias!

Lawsumerism: como dito no texto, página de facebook e insta dedicados ao consumo consciente

Outros projetos virtuais já existentes que continuam:

Vista da Cidade, Direito é Legal, Brunch das Meninas, Découvrons Avignon (este último em francês). Todos com páginas no facebook e alguns com mais que isso. Não vai dar tempo de linkar tudo porque tenho que ir cozinhar pra esta noite! Beijo

Sobre ter sorte e fazer esforço

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Quando me mudei para a França, toda vez que eu encontrava algum estrangeiro com autorização de residência aqui, eu ficava meio babando e pensando « gente, tudo que eu queria era ficar tranquila em relação a este a assunto e essa pessoa já tem isso e nem está valorizando ». A mesma coisa acontecia quando eu, pessoa com certa dificuldade de me localizar no espaço, estava tentando tirar carteira de motorista, aos 18 anos, no Brasil. Encontrava minha vizinha que já pegava o carro e saía para ver as amigas e pensava « que sortuda ! Tudo que eu queria era tirar essa carteira ».

Imagino que quem faz ENEM deve pensar a mesma coisa de quem já entrou na faculdade, quem está na lista de espera para ser chamado para um concurso, deve pensar a mesma coisa de quem já foi chamado. Enfim, quem carrega consigo alguma preocupação, deposita em quem não carrega a mesma preocupação, uma certa cobrança de que aquilo seja valorizado. E numa boa ! Não tá errado não ! Amo uma frase que diz « Sorte é isso : merecer e ter ». E já te adianto que este texto estará carregado de frases boas, porque eu dei muita sorte de encontrar um monte pela vida e guardá-las.

Eu estava na despedida de um amigo italiano que decidiu mudar pra Catalúnia porque a fim de mudar de vida. Duas doses de vinho depois, fui falar com a namorada dele, uma francesa, querida, mais simpática que o normal. « E aí, como você está ? » e ela « Poxa, é muito difícil, eu achei que a gente ficaria junto, já que estamos tão bem… ». Com as mesmas duas doses de vinho, pedi licença e fui até ele « Você tem que ir mesmo pra Barcelona?? ». Ele me abraçou, disse que amava muito a Fulana, mas que nada era mais como antes. Ele iria assim mesmo.

Voltando pra casa, no vento vermelho de outono que me embaraçava os cabelos mais que tudo (sorte sua que tem cabelos soltinhos e macios). Ali, la na ponta inicial dos meus fios, eu pensava « Ai se eu tivesse encontrado um grande amor ». Peguei a câmera e fiz daqueles vídeos que ficam no ar por 24h. Falei de quatro coisas que, se a gente não tem por sorte, é meio difícil a gente encontrar/ter : Um grande amor, um bom trabalho, muita saúde e uma família maravilhosa.

Então deixa eu decorticar isso, como diriam os franceses (esses sortudos que já nascem com passaporte europeu). Até porque, uma amiga muito fina mandou « discordo amigavelmente, quero falar sobre ». E em sua fala ela dizia, « usamos a desculpa de que é muito difícil para nem tentarmos, eu já pensei que tivesse uma saúde frágil, mas busquei conhecimento e descobri que poderia aprimorar muito minha saúde com a alimentação e algumas atitudes saudáveis ». Ela ainda continuou « sobre a família, temos uma visão padrão do que seria uma família perfeita e nós podemos fazer da nossa família o ambiente mais perfeito possível dentro da realidade dela ». Amiga, não poderia concordar mais, expliquei. Quando falei de muita saúde, me referia a pessoas que estão em estados terminais ou com doenças muito graves e limitadoras, quando tudo que querem é ter a chance de viver sem aquela dor ou problema. O avô de uma amiga, ao sair de uma cirurgia, foi perguntado pelo médico se estava sentindo algo e ele respondeu com a frase mais eloquente que já ouvi « Vontade de viver ».

Nós, pessoas saudáveis, temos essa sorte. A sorte de não termos que preocupar tanto com a saúde a não ser comer direito, dormir bem, movimentar regularmente e evitar muito frio ou calor. A gente tem uma sorte tão enorme com isso, que é falta de educação não reconhecermos e não agradecermos todos os dias. E digo mais : Ainda nos cabe oferecer ao mundo o melhor que nossa forma física e psicológica possa dar. É nossa obrigação, como sortudos que somos, oferecermos o melhor daquela sorte que tivemos. No caso aqui, da nossa saúde. E eu estou escrevendo isso e arrepiando ao mesmo tempo de ver o tanto mais que eu poderia estar fazendo e não estou. Shame on you, sua pessoa com os exames todos normais que fica sentada numa cadeira sendo menos do que poderia ser.

Sobre a família, quando falo em família maravilhosa, não me refiro a uma família perfeita, até porque não acredito nessa fachada. Mas um ambiente onde seus familiares te dêem condição de estudar, de perguntar coisas, de descobrir. Onde você possa ter crescido mais ou menos livre para ser quem você é em essência, sem violência doméstica, sem grandes traumas psicológicos. Essa é mais uma coisa que eu tive, e até o momento não sei explicar essa sorte. Talvez, para quem seja de acreditar em outras vidas, eu tenha feito coisas excelentes que me fizeram merecer isso. Mas a verdade é que eu não tenho como garantir nada disso. Talvez seja um teste para ver o quanto eu farei com aquilo que me foi dado. Dado não, emprestado ! Como diria outra amiga, Liliane Prata, « Tudo que é nosso está em consignação », ou seja, a qualquer momento pode ser perdido. Qualquer momento. E sigo dizendo : façamos o melhor do que temos até agora.homerfamilyE e então restam esses dois : Um bom trabalho e um grande amor.

Um bom trabalho. « Ora, todo mundo que se esforça acaba encontrando um bom trabalho ». Penso mesmo que esforço e trabalho são coisas que trazem grande « sorte » para todos. Meu pai gosta de citar uma frase que diz algo como « quanto mais me esforço, mais sorte tenho ». E acho de verdade que é por aí mesmo. Mas tenho algumas observações vindas de experiências pessoais. Já estive em lugares onde o esforço era muito menos valorizado que a… digamos politicagem. Outros, que simplesmente não importava o seu esforço. Outros em que era mais valorizado puxar o tapete dos colegas do que se esforçar de maneira inteligente. Então, é claro que ter um bom trabalho exige esforço, mas exige mais do que isso, exige uma união de fatores que atualmente chamo de sorte como encontrar um patrão honesto, elaborar uma estratégia inteligente, achar um trabalho acessível que você possa ir de onde você mora sem grandes problemas e até participar de um processo seletivo justo. Também vejo como grande fruto de esforço com sorte a gente conseguir tempo e energia para realizar algo que faça sentido e que tenha afinidade com o indivíduo que somos. Coloque aqui um emoji Y Generation force !

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E aí chegamos na questão do grande amor. Que por si só daria um livro, dois, milhões de livros. Um tema sem fim. Um tema que não pode ser reduzido à sorte ou ao esforço. Mas que definitivamente não é algo fácil de ser encontrado. E, ainda que tenha sido fácil para você encontrar, não deve ser fácil de ser mantido. Portanto, digo e repito. Se você o tem, é aconselhável valorizar. Não que tenham que rolar abraçados na calçada na frente de todo mundo. Por favor, não ! Mas leve mais sorriso pra sua companheira/companheiro. Deixe o mundo um pouquinho mais leve pra pessoa que está com você. Dá aquele cheiro enquanto seu amor estiver distraído, aquele bom dia quando todo mundo acordar atrasado. Faz aquela comidinha surpresa e tenta aceitar os amigos, as diferenças, o ascendente em Áries e o papo de horóscopo. Dicas de alguém que não tem um grande amor !

Finalmente, sorte e esforço se cruzam o tempo todo nas nossas vidas e é verdade que temos o que falta para uns e nos falta o que outros têm e isso, embora pareça injusto, pode ser o nosso grande argumento de união. Por isso a gente vive em comunidade, por isso a gente sente compaixão. Por isso não temos motivos para empinar o nariz. Só agradecer, e se ajudar a suprir uns vazios. É para isso que estamos juntos, para aprendermos uns com os outros e também, para depois de duas taças de vinho, a gente tomar uma certa coragem e… ei, seu sortudo, repara na sorte que você tem e valorize !

CreativeSpirit

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Escrevi este texto depois que Maila viu meus vídeos comentando sobre o caso do casal que se separaria. Ela, que me conheceu pela internet, me pediu para escrever sobre o assunto e eu, que a conheci pela internet, disse que era pra ela escrever. Ela escreveu. Mandou seu texto. Eu pirei na história, pensei num monte de coisa e falei « vamos fazer isso juntas, agora eu quero escrever também ». Então, essa é uma história a quatro mãos ! Que começou porque um bendito de um italiano largou minha amiga para ir viver na Catalunia. Ah, se ele soubesse.

« Eu sempre me perco nesta fronteira que classifica os acontecimentos como sorte ou como fruto de esforco. Na verdade acho que os dois se complementam. E mais, acho que a proporcao varia de situacao para situacao e de pessoa para pessoa. Existe gente sortuda? Existe sim. Eu inclusive acho que sou mais sortuda do que azarada. Mas acho tambem que muitos dos momentos de “sorte” que tive na minha vida foram fruto de esforco. E nao falo somente sobre esforco fisico de levantar cedo, sair para trabalhar ou estudar, chacoalhar em onibus lotado,  suar a camisa etc e tal. Eh obvio que isso eh importante e deve sim ser valorizado. E muito! Mas existe “algo” alem disso. E eh algo dificil de explicar porque eh muito pessoal. Ha quem chame de fe, ha quem chame de energia, frequencia, filosofia, exoterismo, otimismo e ha ate quem julgue o outro, portador deste “algo”, classificando-o simplesmente como inocente.” Continua AQUI

O amante

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Um dia se conheceram e ela pensou ter sido por acaso.

Ele apareceu na hora certa. Quando ela mais precisava de algo diferente na vida. Com aquele jeito, aquelas palavras, a paixão foi fulminante. Era tudo novo. Ela nunca tinha escutado aquelas coisas antes. Ele sabia o que ela queria. Mais do que ela mesma.

Não demorou muito, ele ganhou alguns privilégios. Eles se viam várias vezes, se deliciavam juntos. Conheceram uma vida de prazer.

Então ela soube que ele não podia se dedicar à ela exclusivamente. Ele tinha outros compromissos. Não podia falar muito sobre isso. Mas faria o impossível para agradá-la. Ele disse. Ela se assustou. Mas confiou. Ele falava o que ela queria escutar. E ali, bastavam palavras.

Com o tempo e as dificuldades, ela entendeu. Ele precisava de mais poder. Precisava que ela o seguisse, que ela o ajudasse.

Alguns dias, ele chegava sorrateiro, chorava. Dizia que tudo iria mudar. Dizia que só queria ser diferente, que só precisava de tempo. Que seu amor era o maior do mundo.

Nesses dias, para ela, era como se seu coração respirasse aliviado. Eles se amavam onde estivessem. Ele gostava de vê-la ir à loucura. Arrancava sua respiração, arrancava gritos em seus devaneios. Era lindo, era surreal de bom estar perto dele. Ninguém mais poderia entender. Que homem, meu Deus, que homem !

Quando a questionavam sobre suas promessas vazias, ela dizia que tinham inveja, que eram ignorantes, que tinham medo dele. Explicava que tinha exemplos de seu amor. Mostrava alguns presentes. Algumas declarações, alguns feitos. Feitos que eram bonitos, válidos, mas sempre esporádicos. Parecia um projeto de escravidão. Ele servia pequenos sonhos e colhia sua servidão. Mas, não, claro que não. Ele queria o seu bem. Sempre quis!

Ela o defendia com unhas e dentes. Ninguém mais era como ele. Ela queria e precisava amá-lo. Ninguém mais a merecia. Sabia que lá fora, ninguém mais prestava e ela tinha certa razão nisso. Mas ele sim? Sim, sim, ele sim.

Em sua carência, ela se cegou. Muitas vezes, sentia que estava ajudando a construir algo. Que seriam mais fortes juntos. Mas ele a manipulava. Não cumpria as promessas. Não aparecia quando combinavam. Mas foi para isso que ela aprendeu a perdoar. Quando se encontravam, tudo era perfeito.

De tanto ser usada, ela perdia forças, energias, e a própria razão. Mas seu amor vingava. Era uma chama que ardia quente.

Na sua oratória, ele a conquistava como a viuva negra dá o bote em suas presas. Ser refém, para ela, havia virado um mérito. Ela não percebia o tempo passando, as oportunidades partindo, sua vida ruindo. Ele voltaria. Ele ajudaria. Ele iria salvá-la. Que parem com esse discurso absurdo! Ele era bom. Vejam só, ele é único !

Então um dia, ela ficou mal. Muito mal. Em seus delírios apaixonados, clamava pelo seu amor. Precisava dele, precisava de mais que suas palavras. Precisava de suas ações, de suas promessas em concreto. De sua vontade. De seu esforço.

Naquele dia, ele chegou propositadamente atrasado. E não se ocupou de pedir desculpas. Apenas se certificou do seu estado. Ela já não poderia mais dar prazer.

Então se foi enquanto ela agonizava.

E de longe, o populista ouviu a população flagelada gritar por seu nome. “Quando estiver melhor, eu volto”, explicou numa mensagem enviada mais tarde.

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Ps. Dedico este texto a todos os povos que sofrem com a hipocrisia de seus líderes e a todos que tentam escapar disso pacificamente. Que não seja este texto usado para espalhar ódio ou cinismo. Que sirva de metáfora para ponderarmos em relação a tantas circunstâncias abusivas da vida. Entendo que amar vai muito além de defender o que alguém está fazendo de errado. É também guiá-lo e cobrá-lo pelos acertos de forma severa, mas sensata.

 

 

Minha vida com os árabes

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Da novela o Clone até pouco tempo antes de passar um período no Canadá, meu conhecimento sobre o mundo árabe manteve-se mais ou menos reduzido à comida com grão de bico, dança do ventre, algumas mulheres de véu, alguns homens barbudos, religião monoteísta, música dodecafônica. Vez ou outra a televisão me lembrava que alguém, teoricamente em nome de uma parcela muçulmana, executava ações terroristas. E minha cultura árabe parava por aí.

No Canadá conheci muitos árabes, inclusive um dos filhos do rei da Arábia Saudita (que passou um reveillon lá em casa). Eles eram todos gentis, divertidos, inteligentes e ricos. Algumas ideias absurdas que eu podia fazer sobre essas pessoas foram se esfarelando. Fiquei com a seguinte impressão : Árabes são ótimos e ricos. Beleza.

Vim morar na França. Os árabes daqui não têm o mesmo padrão de vida do Canadá. Mas não mesmo. Aqui eles eram mais gente como a gente. E, em alguns momentos, mais gente que a gente.

Foi assim que conheci Nadia, minha amiga marroquina do mestrado. A única que entendeu que eu estava boiando no sistema daqui. Me ajudou do início ao fim e foi a única a fazer esforço para manter contato comigo depois que formamos.

Foi assim que conheci Skandal, um amigo sírio. Uma pessoa que se ouvir você falar que não está tomando leite, ele vai descobrir uma receita vegana de creme de amendoim e fazer um pote pra você no dia seguinte. Quando Skandal soube que meu pai estava aqui me visitando, cruzou a cidade no meio da semana de provas finais com um temperinho sírio. Disse que era para meu pai levar pro Brasil « alguma coisa da Síria ».

Um dia a argelina que trabalha no mercado onde compro legumes me reconheceu na rua. Perguntou como estava a vida (eu tinha emagrecido 10 kgs) e, preocupada, passou-me o telefone da casa dela. Falou que quando eu precisasse, ela estaria aqui de carro e eu poderia ficar na casa dela o quanto fosse necessário. Repito : Essa é apenas a mulher que me vendia legumes.

No dia que caí de bicicleta sobre vários cacos de vidro, eu estava até bem ousada. Um shortinho, uma blusinha fina, sozinha numa avenida de rota rápida. Um árabe parou o carro. Perguntou se eu estava bem, desentortou minha bicicleta, falou pra eu lavar o machucado e foi embora.

Quando vou no kebab comer meu falafel (#goveggie, guys), que é uma das coisas mais baratas que dá pra comer por aqui, é comum que o pessoal de lá ofereça a sobremesa ou fritas extras sem cobrar.

Quando Hikmat, outra amiga árabe, veio me visitar pela primeira vez, ela trouxe uma pulseira de presente para agradecer a minha hospitalidade de 20 minutos para uma xícara de chá. Eles adoram presentear ! Fairouz , outra amigona que ama chá, comprou um kit de banho pra mim porque uma vez elogiei o que ela tinha na pia. E tantas vezes mais, ela me salvou de enrascadas, essa gênia!

“Zulikha, por que você usa véu e se cobre toda ?”, perguntei para uma amiga da Argélia que fez essa escolha. Ela contou sobre uma experiência muito próxima da morte que a fez querer estudar mais o mundo do além. O lugar que foi buscar as respostas era o livro que sua família considerava sagrado. Aliado a isso, embora este livro não determinasse nada específico sobre o uso de roupa completamente coberta, ela entendeu que desta forma se sentiria melhor.

Durante o debate da semana que definiria o vencedor das eleições primárias da esquerda moderada francesa, Benoit Hamon (hoje o candidato oficial) discutia a questão : « Se a mulher usa porque quer, eu defenderei seu direito. Se usa por imposição, eu defenderei sua liberdade ». Lembrei de Zulikha dizendo « meu marido não dá a mínima pra essas coisas ».

Uma vez fizemos um aniversário surpresa para Ahmed, um amigo marroquino, na minha casa. Vieram pessoas do mundo inteiro. Isso porque é Ahmed o único entre nosso grupo que se ocupa de manter viva a idéia de acolher estrangeiros nos encontros couchsurfing de todas as quarta-feiras. As vezes ele vai e fica sozinho. Outras, ele arruma papo com um alemão de 70 anos, ou com um casal de koreanos. Mas ele está sempre lá, depois do trabalho, disposto a falar todas as línguas, porque sabe que alguém pode precisar. Como um dia eu precisei e ele também. É a pessoa mais aberta que existe. E a única que realmente memorizou todas capitais do mundo inteiro. Mas não deixe ele virar o DJ da sua festa. Ele escolhe músicas de 10 minutos cada. Esses árabes !

Hoje, voltando pra casa de noite, encontrei mais um amigo das arábias. Podia ter sido o advogado tunisiano que faz doutorado aqui, podia ter sido o engenheiro libanês que prepara a festa da primavera. Podia ter sido o agricultor iraniano que toca piano como mestre (os iranianos nem são árabes). Mas foi um matemático marroquino. Ele me disse que sua mãe estava aqui para visitá-lo e ficou feliz de ver como ele tem se alimentado bem. Árabes ! , pensei. Pessoas de um coração enorme. É assim que percebo agora, esse grupo tão vasto e diverso.

Que sorte a minha encontrá-los.

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 “Es por el signo de la amistad por el que se unen los hombres, los pueblos y las razas, y es bajo sus auspicios que ha de haber paz en la tierra.” Da Logosofia

  • Este texto foi escrito ao som de : El Arbi, Fatamorgana e Baile de los Pobres – músicas que sempre embalam nossas festas !

50 nuncas de 2016 e obrigada por não perguntar

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50 nuncas de 2016 e obrigada por não perguntar

Quantos anos você viveu neste ano?

Foi muita água por debaixo da ponte. E o mais engraçado que é não foi só comigo. Parece que todo mundo viveu uma revolução coletiva. Mas daquelas revoluções descabeladas mesmo!

Em março eu estava me mudando da França para o Brasil. E mudei mesmo. Fiz festa de despedida. Chorei. Todo mundo chorou. Foram despedir no aeroporto, levei minha gatinha Azzuca, muitas lembranças, muita saudade e aterrissei no Brasil pré-impeachment.

MANO!

Corta para seis semanas depois, eu trocando todas as milhas por uma passagem só de ida para a França de novo.

Achei que teria que passar a vida explicando para as pessoas no Brasil e na França porque eu fiz isso. Mas, ao contrário, quase não perguntaram nada. Todo mundo parecia entender. Então, gente, obrigada de coração!

E aqui vamos seguir a tradição deste blog e fazer uma lista de nuncas positivos em 2016. Esta foi difícil de editar, viu?!

Meu amores, um 2017 muito melhor pra todo mundo! Sobrevivemos!

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  1. Conheci a Irlanda!

Cork, Dublin e Galway. E tudo deu certo! Mesmo quando sumiram com minha mala e computador no hostel, meu escândalo permitiu que encontrar uma turma ótima que me fez companhia o resto do tempo, além de reencontrar minhas coisas. Foi em Dublin, sozinha, que conheci as pessoas mais amigáveis e queridas! Revi Livia e Katerina!!! Foi perfeito! Sério! Perfeito!

2. Fui ao show da Adele!

Em Dublin! Havia descoberto uma semana antes, comprado um ingresso baratíssimo e fiquei colada no palco, tanto que ela passou cumprimentando todos da frente e adivinha: peguei na mão inglesa da diva! Aposto que até hoje Adele ainda não lavou a mão (contei essa piadinha o ano inteiro!).

3. Conheci Budapeste.

Esta viagem me custou conseguir. Mas valeu! Na companhia da minha colega desde a época da Comunicação, eu e Julinha frequentamos um karaokê todas as noites para soltarmos a voz. Todos os caminhos levavam ao nosso hostel e tudo era bem mais barato que na França.

 

4.  Fui ao Sziget! Um dos grandes festivais de música da Europa.

Foi assim que no último dia, depois que Julia já tinha partido, consegui um ingresso a bom preço pra viver essa experiência. De novo sozinha, me encontrei com Manu Chao, Bastille e fiz aquelas amizades que duram poucas horas, mas são boas. Continuo sem saber falar Húngaro…

5. Mudei de casa muitas, muitas vezes.

As vezes minha conta dá 9 vezes, outras 7. Mas isso foi apenas até agosto. Me mudei de casa, de país, de continente e fiz tudo de novo quando voltei. Minha coluna se retorceu completamente nessas idas e vindas. A cada vez que morei com um amigo, amiga ou sozinha tive que me adaptar com uma coisa nova, uma mania, uma proibição, um barulho e um cheiro diferente. Algumas noites eu acordava e não tinha noção de onde estava, de quem eu era. É o tipo da experiência que te faz rever um tanto de coisa, principalmente o que a gente precisa mesmo carregar. E olha que fiz tudo por escolha própria. Mas foi difícil. Obrigada a todas as pessoas que me ajudaram nessa vida meio de cigana.

6. Consegui a primeira página do jornal.

Duas vezes com matérias minhas, outra vez com uma informação em primeira mão que consegui correndo atrás da polícia!

7. Viajei com um gato no avião da França pro Brasil.

Hoje Azzuca vive no Brasil e eu voltei. Mas ela e meu pai criaram laços!

8. Mais de mil seguidores no Youtube.

Ao mesmo tempo que tenho vergonha de mostrar meu canal para meus amigos, adoro quando chega mais gente. Difícil explicar.

9. Menos 10 Kg

Passei a vida meio desagradada com meu peso. Um lado era pela cultura da magreza mesmo, outro por minha conta e minhas curiosidades. Eu queria saber como era ser mais magra. Um ano com tantas mudanças de casa, tanta falta de estabilidade, tantas decepções acabou ajudando nisso. Mas teve a questão de eu tentar comer menos açúcar e variar mais do gluten (mas não cortei nada além da carne). Além disso, houve uma fase em que trabalhei todos os dias, sem descanço semanal. E aqui em Avignon é possível fazer tudo à pé ou de bicicleta. Em BH eu também tentei, mas teve um dia que tive que negociar com o ladrão para ele só levar 7 reais… O que importa é que finalmente olho para o espelho e falo “ah, tá bom”! E vou me concentrar em outras batalhas. Tomara que consiga manter essa colheita.

10. Virei família de acolhimento de gato.

Uma espécie de abrigo para gatinhos sem casa, em parceria com a Associação de proteção animal. Foi assim que Harry veio parar na minha vida. E ele é igual à Azzuca, o que causa muita confusão nas pessoas!

11. Teve polícia e ambulância na minha festa de aniversário

Mas está tudo bem. E foi maravilhoso!

12. Pode ser estranho, mas este foi o primeiro ano que eu mesma abri minha garrafa de vinho.

Posso abrir a sua também! 😉

13. Comecei a fazer a própria unha do pé e da mão e aceitar como razoável.

E rápido!

14.Convenci um homem a mudar sua atitude com relação ao seu cachorro.

Aí vai a história: Enquanto eu ia para o supermercado, vi um filhotinho estava com muito medo de andar na coleira e o rapaz ia perdendo a paciência e estapeando o cachorro quando decidi agir. “Que lindo seu cachorrinho!”. “Ele é filhote e não quer sair na coleira”, “Ah, o tempo de adaptação, dizem que precisa de muito carinho e atenção para adaptar mais rápido”, “É?”, “Cara, você tem muita sorte, ele vai ser um grande amigo ”. Ele começou a coçar a cabecinha do bicho, acariciar as orelhinhas! Na saída do supermercado o cachorro já estava lambendo o rosto do moço que acenava pra mim! Quero acreditar que deu tudo certo.

15. Batata doce. Uma paixão revelada este ano.

16. Passei o dia dos namorados tanto brasileiro quanto francês oferecendo flores para estranhos na rua e recebendo todo tipo de reação em retorno. Inclusive péssimas e lindas respostas. Perdôo vocês, seus rabugentos.

17. Descobri que meu ascendente é escorpião ao invés de capricórnio. Não que isso mude alguma coisa.

18.Descobri o que é a síndrome do regresso. E entendi muita coisa.

19. Conheci Strassburgo. A cidade da epidemia de dança!

20. Vi a super lua. Com os amigos.

21.Fiz amizade com uma trupe de teatro no meio da rua apenas porque começamos a dançar juntos. Depois eles vieram na minha festa de aniversário (aquela mesma da polícia e da ambulância).

22. Baixei, usei e deletei o Snapchat.

23. Aconteceu uma coisa maravilhosa! Uma das minhas cantoras preferidas de Belo Horizonte virou minha amiga. De verdade!

24. Fui em dois cafés com gatos. Um conceito que ainda não vi aparecer em Belo Horizonte. Mas tem para todo lado no mundo.

25. Meu quarto, no último apartamento em que morei, virou uma pista de dança. Agora a sala é lugar de comer e logo ao lado, descobriram que este lugar é um ótimo lugar para dançar. Um sonho tornado realidade!

26. Passei uma tarde saltando num pula-pula! E em ótima companhia. Outro sonho tornado realidade.

27. Fui num desfile de moda com credencial de jornalista francesa.

28. Consegui respeito da polícia francesa porque falei que era advogada. Porque enquanto eu era só uma imigrante…

29. Finalmente assisti a um TEDX e foi maravilhoso.

30. E na semana seguinte, cruzamos com um dos palestrantes num restaurante. Cumprimentamos! Ele sentou na nossa mesa, ofereceu vinho pra todo mundo e falou até!

31. Ganhei terceiro lugar num concurso de fotografias no instagram. Viva Instamission!

32. E por falar em foto, vi meus amigos mudarem de foto no facebook quando parti de Avignon. Tão lindo o filtro-Didi. Eles não esperavam mesmo que eu voltasse! Haha

33. Comecei a escrever para a página Razões para Acreditar! Amo.

34. Conheci um grupo em Belo Horizonte de pessoas que saem para praticar o Inglês. Muito legal!

35. Vi um tanto de chefões do Brasil serem presos. Com a mesma surpresa!

36. Decidi começar a falar para a gente em geral quando a atitude deles me desagrada muito. É tipo uma crítica construtiva. Mas nem sempre funciona. E tem que ver se não estão armados antes. Sigo tentando. Acho a ideia positiva.

37. Comecei a fazer compostagem.

38. Descobri Calle 13. Com meu amigo libanês que me acolheu um mês! Que lástima que não nos descobrimos antes!

39. Conheci o Museu da Civilização Mediterrânea em Marseille

40. Conheci o Museu de miniaturas de cinema em Lyon. Que lindo!

41. Conheci Roma. Que lugar!

42. Conheci o Vaticano. E vi a Capela Sistina.

43. Em Roma, tive a oportunidade de despedir de um amigo, sentada no alto da praça, de madrugada, dividindo uma garrafa de vinho e filosofando sobre a vida! Todas as despedidas deveriam ser assim.

44. Conseguimos correr atrás de um assaltante em Nimes e recuperar um celular. Não recomendo fazer isso no Brasil porque geralmente estão armados.

45. Conheci uma poeta premiada de Haiku.

46. Conheci um super urbanista francês!

47. Conheci Ina, que interpreta Solange, e é minha youtuber preferida na França.

48. Passei uma tarde fazendo fotos e também posando para elas na frente da torre Eiffel.

49. Virei doadora de plasma!

50. Reuni Peter e Azzuca! Meu cachorro e minha gata. Com as duas melhores pessoas que conheço: meus pais.

Além disso, 2016 foi um ano realmente difícil. Felizmente o organismo aguenta uns trancos! E a vida continua valendo a pena.

Vou passar o réveillon entre amigos e família, mas tinha imaginado outra coisa. Fantasiei que eu podia chegar à meia noite andando por uma rua deserta e gelada e deixando o ano para trás. De repente, começa a tocar aquele inicinho legal de Bitter Sweet Symphony e eu continuo andando e despedindo do ano até que percebo que este é o som do despertador. Acordo. Tenho 15 anos e 2016 não passou de um pesadelo daqueles que acontecem quando a gente dorme demais!

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Atualização! Lembrei de um nunca muito importante! Fui na formatura de um ex-aluno que há 12 anos estudou comigo. Gustavo virou engenheiro e muitos outros viraram profissionais e até colegas de profissão. Um dos meus passados mais gloriosos foi ser professora. Espero um dia retomar essa prática!

Aproveito pra deixar mais umas fotos!